Torna
que volta e muda que vai e o tempo recua e a hora ofusca-se de novo.
Espera
um minuto, ó tempo. Quando te mudam a hora, corres que voas em perseguição do
escuro da noite quando o que eu queria era ainda o dia em claridade de nova
aurora.
Calcada,
vencida, esmagada a hora clara de ontem, obrigam-me a colocar a de hoje sob a
mesma escuridão da noite cerrada.
E
assim, até já na meia sombra das cinco da tarde se me aponta o ponto onde só
vejo poente.
Uma
nuvem de sombrio, feia, grande, fala alto e fora de tempo ao dia roubado.
Ralha-lhe.
-
Ora, ora! Vem agora a treva contar-me medos à candeia bocejante da noite quando
a claridade ainda não obscurece – diz o dia perplexo.
-
Nem com esboços de sonhos me convences, inverno de breus - remata com dedicação
de vontades.
Também
eu sou pelo tempo luminoso a desoras, ó dia. Alisto-me nesses consideráveis
haveres do teu remanescente brilho.
Escurecer
cedo tem muitas lendas de dor. Só o fim da tarde luzidia mostra minutos mais
sabidos, mais serenos, com todo aquele tic-tac de relógio da mais clara e
cerimoniosa deferência.
As
noites precoces, não melhoram as brumas das idades. Às vezes, nem os mistérios
das juventudes.
Faça-se
dia! E quanto mais longo de cristal, melhor!
Mário Rui
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