A entrevista de Mário
Crespo à ministra Assunção Cristas
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O clamor que por aí vai
com a entrevista, e respectiva prestação de Mário Crespo, à ministra Assunção
Cristas é de tal modo confrangedor que não percebo da razão para tanta
indisposição por parte dos que se sentiram mal com a mesma. Nem a própria se
terá achado incomodada, e bem, com o desenrolar da conversa pelo que sou levado
a crer que alguns até já conseguem fazer suas as dores que outros não sentem. O
que vi e ouvi foi uma compilação de factos organizados e estruturados pelo
jornalista sem que a ministra, e bem, repito, se tenha sentido injustamente
lesada. Factos que de resto o jornalista soube reunir de modo descomprometido e
objectivamente tratados. Não assisti sequer a possibilidades conflituais o que
diz bem da isenção de quem conduziu a entrevista. Uma outra coisa, a que sempre
o entrevistador deve guardar respeito, é saber se as pretensões de verdade
quanto ao que afirma são ou não facilmente verificáveis. No caso desta entrevista,
lá esteve Assunção Cristas para o fazer. E fê-lo a seu jeito, embora eu não
concorde com as explicações dadas. Mas isso é outra história. Voltando ao que
importa, eu compreendo que a apresentação de factos auxiliares por parte de
Mário Crespo, que são normalmente aceites como verdadeiros, possam ter
aborrecido muita gente mas a verdade é que as notícias dadas pelo mesmo não são
novidades inventadas e daí que não se tenha tratado pois de peça literária, mas
antes de pragmatismo informativo. E do bom! Quanto ao saber-se se ao
entrevistador cabe, ou não, o papel de defensor dos seus próprios pontos de
vista, também é assunto aberto a discussão. Deve ter a humildade para reconhecer
que não é o detentor de uma verdade universal, não está no lugar para cortar ou
substituir as marcas da oralidade do entrevistado, mas igualmente se deve
declarar que, quanto mais intenso, comum à sociedade em geral e maior abrangência
tiver o assunto, mais o jornalista deve ser o fiel mensageiro dos pontos de
vista da ‘maioria silenciosa’. Foi isso que Mário Crespo fez. De modo acertado
e cordato. O tempo em que o entrevistado entregava as perguntas ao
entrevistador, já lá vai. Hoje, a entrevista, sobretudo a de teor igual ou
semelhante à que sentou estes dois personagens da nossa sociedade, deve chegar embrulhada
nos elementos que envolvem o ambiente onde a informação é recolhida. A saber; na
rua, no povo sacrificado, na injustiça social, nas mentiras perpetradas pelas
elites reinantes. Gostava que os descontentes com a tal prestação de Mário
Crespo me explicassem melhor modo de conduzir a entrevista. Com um roteiro a
cores? Insistindo na ideia de que dois mais dois, são cinco? De pupilas bem fechadas?
Que diabo, num país onde muito poucos oferecem resistência aos turbilhões sociais
a que assistimos, será que continuaremos a deitar fora os que dão nota da
estranhíssima razão para tão agonizante modo de vida em sociedade?
Mário Rui