Editorial
Por Eduardo Oliveira Silva - jornal i
publicado em 14 Nov 2013 - 05:00
De facto pouco importa se se analisa o estado a que
chegámos segundo um ponto de vista político de esquerda ou de direita, pois que
o único método de exame através do qual podemos resumir a causa e os efeitos
que nos levaram à triste sucessão de acontecimentos que por ora vivenciamos, é
claro de sobeja. Deste modo, tão-pouco é útil acrescentar qualquer outro
balanço que não seja o que nos entrou vida adentro ao longo dos últimos 39 anos
de partidocracia.
E o balanço resume-se às alianças, aos conluios,
tramas e demais enredos entre os partidos políticos, através da partilha do
poder que, infringindo o popular sufrágio universal, resultaram na condição de
empobrecimento recorrente de uma parcela muito grande da população, acauteladas
que sempre estiveram as mordomias de grupo ou individuais dos actores que
desempenharam, com menor e maior proveito, esses papéis. Acresce a isto,
conferindo-lhe ainda mais repugnância, a certeza de que semelhante
teatralização foi levada a “bom porto” pelos mais impreparados, matreiros e
famélicos seres que algum dia desaguaram na gestão do país. Como foi possível
enganar todo um povo, como foi possível que todo um povo se tenha deixado
enganar? A súbita abundância material de uma certa classe política, embora
parecendo raciocínio primário e sem ligação directa aos factos, há muito que
nos deveria ter elucidado quanto ao modo como fomos (des)governados. As culpas
que sempre se imputaram a terceiros – quaisquer que estes sejam – vão desde a
crise mundial até ao mau jeito que dá a Lua quando às vezes se mostra
redondinha. Patranhas que nos contam desde tempos remotos. Só patranhas. Se
assim tivesse sido, se apenas acreditássemos no mal que pretensamente os de
fora nos teriam causado, não obstante tal, quero crer, nem Portugal estaria
como está nem, com toda a certeza, teríamos vivido paredes-meias com os
sátrapas que desgraçaram o país. É mentira que tudo se fique a dever à
conjuntura internacional. Os maus estão mas é no meio de nós, foram eles, com a
nossa não menos infeliz complacência, que ditaram a solução final. Portugal
paupérrrimo, escasso e sem caminho feliz à vista. Incomum para qualquer tipo de
gestão de pedaço de povo que se quer digno é permitir que tais pregoeiros de
sistema político esgotado, falido, ainda se mantenham na crista da vaga.
Precisamos de saber até onde vai e por quantos mais anos se estenderá a
aquisição de habilidades desta gente. Já não sei que mais fazer para obstar ao
continuado saque do que sou, mas sei que calar-me não me ajuda! Que me perdoem
os que tratam e sempre trataram condignamente a coisa pública. O meu vociferar
não lhes aposta culpas. Para os sobrantes, os que desampararam a nação,
apetece-me dizer-lhes que bem sei o que é mortal para os ratos dos esgotos
urbanos – aquelas criaturas ‘inteligentíssimas’ capazes de aprender a
distinguir rapidamente comidas de iscas venenosas – mas falta-me companhia de
desinfestação. Por minha vontade, convocava-a urgentemente nem que fosse apenas
para o desafio às regras anafadas de uns tantos dessa espécie, para lhes
alterar a sua previsível mas verdadeiramente impenetrável maneira de
desconsiderar os semelhantes. E o mesmo faria aos que insistem em continuar a
orientar as suas acções de acordo com os seus próprios precedentes. Também os
há! Muitos! São alguns ‘senadores-generais’ conhecidos por lutarem novamente a
sua última guerra, julgada vitoriosa, mas que afinal só assumem riscos suicidas
e não favorecem a eliminação dos actuais problemas. Pois se eles próprios são o
problema, de que modo poderão ajudar? Talvez permanecendo mudos e quedos dessem
um óptimo auxílio, e eu satisfeito.
Mário Rui