A um amigo e para os que ainda
duvidam.
Não é o teu caso, caro amigo, mas
eu percebo da razão que levou muita gente a surpreender-se com a dimensão
nacional, e não só, de Eusébio. Mas ainda bem que assim foi pois que “estranhar-se”,
é começar a entender. Ainda agora se devem estar a interrogar como foi possível
a um «homem agradável com pouca cultura, mas evidentemente que não se estava à
espera que ele fosse um pensador», chegar a um estatuto moral tão distinto.
Ciúmes, caro vizinho, ciúmes dos que professam a exaltação do eu e a excitação
da sua própria volúpia. A isto chama-se
insolência que, infelizmente, pertence ao estilo do tempo que vivemos! Quanto à dúvida a que alguns aludem sobre o
direito, ou não, de vir a ocupar o Panteão Nacional, a par de outros ilustres
portugueses, sejam eles jogadores de futebol, cavadores, carpinteiros,
ferreiros ou cirurgiões, para mim, desde que impolutos, de carácter sublime,
justos, virtuosos, livres de falsas convicções políticas e religiosas e
detentores da quase perfectibilidade infinita do género humano – se é que
existe -, especialmente quando posta ao serviço de uma nação, deviam, todos
eles e desde logo, ter lugar reservado nesse oráculo. Mas atenção, só os que
fizeram do dever um culto dedicado aos seus semelhantes. Só não gostaria de lá
ver os velhacos e os que sempre foram viúvos da glória! E eu bem sei como tu me
entendes amigo vizinho posto que, nós os dois, embora não tenhamos tido uma “educação
esmerada num colégio da Suiça”, somos seguramente detentores de uma polidez de
modos e práticas inigualáveis, ou não nos tivesse este oiro sido transmitido por
progenitores da mais fina condição humana. À nossa saúde e à de todos os bons
espíritos, aqui vai um abraço reconfortante. Fica bem!
Mário Rui