Freitas do Amaral
quer “voto obrigatório” (LER
AQUI)
Quem o viu, enquanto
democrata-cristão, e quem o vê agora tornado verdadeiro socialista das causas
por ganhar. Um verdadeiro espanto! Antes era apodado da direita reaccionária,
agora da esquerda e com voz de dominação, tom que por si só parece querer significar
a aposta no lado negativo das experiências democráticas. Diz ele; "não tem
nada de antidemocrático. Se a vacinação e o seguro automóvel são obrigatórios
em Portugal por que é que o voto, que define o que vai ser o nosso país, não
pode ser obrigatório?". Claro, pensamento político como este apoiado em
tão similares circunstâncias, só podia sair de uma mente brilhante nascida na
cristã democracia combinada com a grande tradição liberal socialista. Grande
professor! Uma liberdade assim feita, como o senhor a espaços apregoa, é um
real equilíbrio entre a liberdade e a justiça social como que estrutura
refinada da ciência política nacional. Mesmo assim eu apostaria mais depressa
numa vacina que combatesse as suas confusas esperanças e então depois celebraria
contrato de seguro que lhe permitisse afiançar a sua persistente reconstrução
democrática. Só depois, muito depois de analisar o resultado da terapia e
crendo na eficácia da mesma, é que dedicaria algum tempo à reflexão da sua
robusta interpretação do voto. Então defende a aplicação do "voto
obrigatório" como forma de eliminar a abstenção e até de motivar os jovens
a participar na vida cívica e política portuguesa? Muito bem, mas fale-nos
primeiramente da presença de um poder invisível que corrompe a democracia, da
existência de grupos de poder que se sucedem mediante eleições livres, sem
votos impostos (eu imagino o que seria com votos forçados), que até hoje
permanecem como forma única de um poder que só a alguns interessa. Somar a tudo
isto o “voto obrigatório”, que o senhor defende, é reconhecer ainda piores
intermediários entre os indivíduos singulares e a nação no seu todo. Não
percebeu o senhor que quem se abstém não o faz por simples aversão à chuva, ao
sol, à geada ou à subida da calçada? Boa e muita desta pensada atitude só se
abstém já que há muito percebeu não poder contar com os mais sábios, os mais
honestos e os mais esclarecidos entre os seus concidadãos no desempenho de tão
nobre acto de gerir a coisa pública. Essa sim, é uma das mais substantivas e
atinadas razões para que prefiram o sossego dos seus lares à mansão das ilusões
apregoadas no pré-voto. E que fique bem claro; todo este meu discurso apenas
vale porque de facto até hoje só nos deram uma definição e prática mínimas do
que é uma democracia. No dia em que o senhor e outros como o senhor nos
disserem que Portugal, como país do futuro, deixará de contar convosco, então a
principal causa da abstenção desaparecerá e com ela voltará o voto em
quantidade, mas não o obrigatório. E bem me pode falar do exemplo seguido por
outros países quanto a tal modo de votar. Não nos quer falar antes do modo de
governo que sustenta essas nações? Por exemplo, encher o índice de descrições
com os impostos que esses cobram aos seus cidadãos, com o montante que não
roubam às pessoas, com as pensões que não lhes tiram, com a corrupção que pouco
os afecta, com a justiça célere e bem aplicada que têm, com o mês que não vai
para além do dinheiro disponível para gastar, com a banca que não explora, com
o Estado que não rouba? Anda agora a falar de voto à força como se isso fosse o
acto necessário para nos elevar da condição de bichinhos em que nos
transformaram à de verdadeiros anjos no paraíso celestial. Se quiser falar,
fale, mas do outro, do voto livre, pois se ouvido o coagido, os votantes só de
imaginarem essa palavra saem correndo desinteressados do que quer que se diga
depois. Esqueça lá de vez as suas doses homeopáticas de pretensa
descontaminação moral da política que nos assiste pois do que precisamos é de constante
reflexão e revisão do itinerário sinuoso que você e outros tantos como o senhor
nos deram. De missa laica, estou eu farto, de voto obrigatório tão-pouco nos
oferece qualquer garantia de que os serviços prestados pela pretensa
necessidade irão condizer com suas promessas. Portanto, à sua ideia, e a si
mesmo, ofereço-lhes um vácuo de credibilidade. Adeus!
Mário Rui
____________________________ ________________________________