Um
mundo de fantasias, projectando-se do cinescópio da mente de alguns, inunda de
alqueires e alqueires de pão de luminosa essência o futuro próximo. Depois, até
uma vindima mais fértil e já anunciada, mesmo não se sabendo se se fazem ou
desfazem receios quanto à sementeira, vai-nos certamente pôr a bailar nas
romarias do fim do Verão . Não há nada que se compare a uma vinha eleitoral
para render, ainda que cheia de moléstias. É por isso que eu não estou nada arrependido
de haver depositado sérias desconfianças quanto ao bácoro de novo anunciado
para a prenunciada fartura do ano, ou anos, que nos batem à porta. O meu tempo
já o estragaram, faz muitas luas. Agora já só fico à espera que mais poeiradas
sufocantes, mais grilos, rãs, relas e mochos, não venham prefaciar outra tanta
lama, já nem digo para o porvir dos meus filhos, mas apenas para a ferramenta
que lhes possa servir de ganha-pão em tempo vindouro. D.Sebastião, também o dos
projectos de futuras prosperidades, deixou herança de épicas incitações
guerreiras e, pior que isso, fez perpetuar coros que insistem em tecer
vaticínios sobre as suas proezas, agora não em Marrocos, mas em Portugal.
Mostram-se já os cenários de celeiros cheios, casas e famílias fartas do
tamanho da torre de Babel - um encanto, casa que há-de ser um ovo. Melhor teria
sido que Alcácer-Quibir e o Rei, ele próprio, e já agora acrescento Agosto de
1578, nunca tivessem existido pois talvez as evidências duvidosas de projectos
de futura prosperidade, assentes em sonatas quiméricas de farta seara, já há
muitos séculos teriam por certo sido abandonadas da prática política nacional.
Mas enfim, esta é a política que tem feito este Portugal que vemos e perdoem-me
pelo amor de Deus, que não me esqueço de quem me tem feito mal, embora queira
esquecer os que adiante ainda pior me vão fazer, "afiançada mente"!
Mário Rui
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