E
depois, quando vier uma solidão, quando o dia mostrar o negrume do seu manto,
mesmo que venha a bruma espessa e turva, havemos de melhorar e daí virá uma
obsessiva necessidade de compreender. Talvez o último dos refúgios onde repousarão
profundos e experimentados olhos feitos de um tempo de tragédias. Chegada a
altura de nem chorar nem deplorar, mas apenas da entrega ao futuro, resoluta
será uma vez mais a natureza quando atingida a meta da sua criação. Voltaremos
à vida das coisas e de novo sujeitos às mesmas leis que controlam as marés, as
estrelas, os dias, talvez os números e mesmo as quantidades. Vale dizer progredir sim, ainda que ignorar não, posto que por
agora o morrer, assim como o nascer, só ocorre uma vez. E não são necessárias mais contendas que adoeçam a razão do
viver. Já se chorou demais, já se viveu de menos, desgraçadamente. E por muito viva que seja a alegria de estar com todos, é
ainda mais triste a de nos irmos embora sozinhos. A grande tarefa agora não é
justificarmo-nos. É antes percebermos que o valor absoluto do acontecido tem
forçosamente de ser maturidade para amanhã. Afinal as flores surgem no seio da
lenha morta e ramos queimados, secos, partidos, vestem-se de verde e
reerguem-se.
Mário Rui
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