Há
uma mosca casaleira que resolve incomodar-me enquanto escrevo. Parece-me
tratar-se de mosca zonza com a cálida temperatura de um Outono que persiste
numa certa indolência, aqui e ali entrecortado pela brisa frenética de uma
eleição que já foi. Já lhe pus vinagre, mas ela persiste na vã tentativa de me
levar à melancolia dessa indolência de tempo e raciocínio, causa que
garantidamente não vai ganhar pois nem essa, nem outra tentativa de tédio, me
vai ocupar. Insecto muito inoportuno, como igualmente inconveniente é a leitura
de uma democracia que tocada a sinos no último domingo, indefinidamente parece
não se querer lavar. E de que vale matar a mosca se porventura ela possui uma
confiança regalada que lhe diz ser útil passear a sua fé por sobre as teclas onde
carrego escrita? Que ganho eu em atacar-lhe a vontade? E que ganho eu se
obstinadamente decidir atacar outras caravanas que me falam de vitória, agora
que em toda a parte tudo anda em bolandas? Mas não houve eleição? Mas com
vinagre ou sem ele, nada se decidiu? Se não devo matar a mosca, não será também
justo desembolsar a necessária e serviçal actividade de ajudar mutuamente a
minha terra, o meu país? Ainda estarei em tempo e modo de falar em fidalguias?
Caramba, tanta pergunta para tantas respostas que não vislumbro que até já
começo a crer que sou um justo. As diferenças não significam, necessariamente,
conflitos, tal como estes não significam, necessariamente, violência! Por
Portugal, admito que as diferenças possam ser duras, não admito é que as tornem
absurdas!!!
Mário
Rui
___________________________ __________________________
___________________________ __________________________