Contidas e incontidas análises sobre tudo e sobre
todos. A imprensa “deleita-se”, porque vende, o cidadão comum escreve, alvitra,
já não sei se alegre ou tristemente, a propósito de todos os males só hoje
descobertos, mas afinal carecas de
velhos. Uns sabiam de tudo, outros de tudo duvidavam mas só agora levantam
questões e nós bem sabemos como às vezes certas dúvidas não são condição de
progresso. Crucificam-se uns tantos, remetem-se outros para a casa da desobrigação
e o fim da inteligência humana corre o risco de naufragar em pleno porto. Felizmente
que o nosso destino, apesar do turbilhão do oceano, continua a ser a prodigiosa
faculdade do intelecto. Mas é preciso dar-lhe bom uso e as respostas a tudo, têm
de ser, uma vez mais, procuradas no seio dessa capacidade. Quem dela não se
aproveitar, e bem, condenar-se-á à demência. O país está triste de si mesmo. O
rol de causas e tendências é de tal natureza que o importante, nesta altura, é
tomar por ponto de partida os episódios que fecham tal ciclo de mágoa. Depois,
parar para pensar! É-me penoso trazer à tona todas as catástrofes que enfeitam
a negro o curso dos últimos dias. Vão-se os melhores, os novos, perdemos os que
seguram uma existência, os adultos, e depois deperdiçamos o saber e o sabor dos
mais velhos. Parece que tudo isto se esvai em nome do ataque que urge fazer a
quem um dia errou, a quem um dia se entrecruzou com razões desconhecidas na
espuma de uma praia. Devemos condenar, impor pena a, mas deixem que primeiro compreendamos
a identidade da causa das coisas. O desafio é, portanto, tentarmos perceber quais
os mecanismos ditos “culturais” que não devem sentar-se no auditório do avanço
humano. Para isso, em primeiro lugar há que retrazer as escolas universitárias e
os que lá mandam para o seu genoma normal. Ensinar, criar vida humana com o
objectivo de melhorar a corpulência do ser e, se necessário for, reprimir os
que pregam máximas, rituais, arbitrários e enganadores. Mesmo se feitos em nome
pessoal, nunca a escola se dissociará de tais anátemas. Depois, virá certamente
o momento em que os mentores práticos desta ficção ritualista perceberão da sua
própria incapacidade para assumirem o domínio daquilo que impensadamente
reivindicam. É trabalho para todos, conquanto os primeiros se disponham a obrigar
os segundos a fazê-lo. Obrigar, com juízo, é um verbo educativo! E ainda o é
mais quando conjugado perto dos jovens, jovens para quem tudo no mundo é
maravilhoso e ao mesmo tempo desafiador, mas desde que tenham as pupilas bem
abertas!
Mário Rui