O REI!
Preencheu as minhas tardes radiofónicas aos
domingos. Depois, a preto e branco, no ecrã da pequena caixa que mudou o mundo,
trouxe-me alegrias mil que espalhava por essa Europa fora. Jogava futebol como
nunca vi até hoje. Perfumado, enérgico, sério e especialmente encantatório. Em
1966 colocou o meu país num patamar até então desconhecido. Não só porque fazia
magia com o esférico mas também porque disse ao resto do planeta que a
civilização a que pertencia, a portuguesa, era o nível mais amplo de identificação
a que pertenciam todos os de cá. Alguns quiseram fazer desta civilização do
futebol, e dele próprio, um ser e estar que desaparecesse e ficasse enterrado
nas areias do tempo. Em vão, felizmente. Sempre que as diferenças marcam pela
positiva, é impossível penetrá-las de modo a apagá-las da memória dos amantes
das boas causas, dos bons relacionamentos. E ele, o REI, sabia relacionar-se
não só com a bola como também foi herói nessa troca e nesse desfrutar de doces
delícias, mesmo nos seus momentos mais amargos e penosos. Forçou sempre uma
relação, possibilitou sem invalidar e, pelo menos a mim, sempre me satisfez sem
me causar aperto. Ganhava sempre! Julgo que todos nós e em particular os
Benfiquistas fomos, e somos, gratos beneficiários de tantas recomendações que
nos deu. Agora chegou a desagradável certeza e a irritante confusão condoída da
partida. Gostávamos, isso sim, de as escorraçarmos de modo a que saíssem de
cena. Se não o podemos fazer, pelo menos ainda podemos afirmar que jamais serão
grandes o suficiente os nossos agradecimentos a esta ‘Pantera’ de maneira a que
abarquem a generosa experiência humana que encarnou. Resta-nos o conforto
espiritual por sabermos que permanecerá vivo na nossa memória colectiva e que
ninguém conseguirá dissolver passado tão glorioso. OBRIGADO, EUSÉBIO! De pé e
em silêncio, como deve ser!!
Mário Rui
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