Equipamentos
digitais vão ter taxas até 20 euros
(jornal i)
É possível acabar com este futuro?
Português que não se resguarde, é criminoso. Não
chega toda a caterva de sacrifícios já feitos. Roubam-nos dinheiro, dão-nos
solidão, solidão do temor da incompreensão do futuro, dão-nos fobias,
palpitações, nervosismos, desgastes que apelidam de esforço nobre pela
recuperação do país, tiram-nos dignidade e eis que entretanto chega a hora de
mais uma medida “acertada”. Equipamentos digitais vão ter taxas até 20 euros.
Mais um imposto encapotado, desta feita para pagar, dizem eles, direitos de
autor. Quem paga? O mesmo de sempre, embora aqui o “consumidor” devesse
chamar-se governo e o “consumido” o simples português. Porquê? Pela repetida
razão de que o dito estima que a aplicação desta medida totalizará, anualmente,
um valor de 15 milhões de euros, o que significa bolso ainda mais vazio por
parte do pagante nacional. Já não faltára muito para que se acabe de vez a
coisa a que deve ser infligido imposto já que a insistência na mesma tecla
parece-me representar apenas a falência dela mesma. Agora já só há novas
receitas e, portanto, novas formas de as inventar. Nada mais do que isso e
quando o veio secar, não tardará muito, o governo prosseguirá certamente na
contemplação inquieta do dízimo seguinte. Há-de esse governo esfaimado insistir
na tortura a todos os “consumidos”, adaptando-lhes outros nascentes
desenvolvimentos até que descubra o tom justo do suplício. No calor deste
“patriotismo”, a seguir, porque entretanto já falecido todo o pé-de-meia de
quem paga e não bufa, proponho então que se virem estes traficantes de sonhos
para a razão do juro a cobrar às ondas do oceano, às núvens, ao crescimento
demasiado rápido da fava-rica e, já agora, não se esqueçam por favor da
insolência dos sobrevivos descontentes. Cobrem-lhes igualmente um triplo
tributo pela suas demoradas viagens até ao respectivo epitáfio e então depois,
isso sim, e se ainda houver desagradados, cubram-nos finalmente!
Subsiste algo incompreensível à luz da minha pobre
faculdade de raciocinar. É isto; afinal há gente que, mesmo condenada, sente um
certo orgulho em perseverar no esforço inglório! Eu próprio, e muitos como eu,
infelizmente!
Mário Rui
___________________________ ________________________________