Prazeres por entre cambiantes de bons desígnios
E por agora é-me quase impossível dizer ou escrever linhas que não
sejam memórias juvenis de quem, por momentos, se quer furtar ao determinismo
das urbes feito quantas vezes só a régua e esquadro. Assim, regresso aos meus
paraísos embalado nestes remansados poemas de verdes e sombras, silhuetas
afáveis que ao toque interior me deixaram tantos gestos de afeição. Os sítios
que a gente amou da vez primeira, deixam-nos sempre poisados num sorriso que
nos acorrenta aos bons tempos de então. Mesmo que a diversidade seja uma das
características das nossas vidas, há coisas que a avenida, o prédio, a pólis, o
mundo, não nos dá. O que se amou da vez primeira, sabe à nossa origem, à nossa
religião, sabe à paisagem da nossa própria extensão, sabe às nossas tradições. Ademais,
tudo isso é a nossa essência e ainda por cima é literária. Que bem faço em não
me debater entre efémeros protestos de vida nova carregada de intolerâncias mil
se me posso amolecer prazenteiramente em paciência que não se faz despeito.
Gosto destas renovações. Sem elas, de há muito se teriam perdido as memórias de
muitas gerações, e ficaria morta a ‘arte’ da minha terra.
Mário Rui
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