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Se é que
foi um simulacro a sério, aprovo. Dirigi e estive envolvido em tantos e com
tanta gente boa, que não seria honesto comigo próprio se outra coisa dissesse.
No entanto, não posso deixar de anotar o mau gosto que representa a realização
de acções deste género enquadrando-as numa efeméride/lembrança penosa para quem
a viveu, trágica pelas vidas que ceifou, sinistra pelos bens que roubou,
funesta pelos sonhos que despedaçou. Como se tudo isto não bastasse para
enegrecer a aludida formação prática que é devida, com toda a premência, aos
‘soldados da paz’, escolheram então um dia com “arraial” e “foguetes”, quiçá
mais festa que propriamente momento de reflexão e aprendizagem. Da escolha do
dia, presumo e quero acreditar não se encarregaram os que habitualmente lutam
no terreno. Do simulacro, ninguém discutirá a sua utilidade, o que se pode e
deve dizer é que tais “exercícios de simulação de emergência”, quando bem
feitos, envolverão os meios técnicos absolutamente necessários e os humanos
estritamente imprescindíveis. Quando estes últimos incluem figurinhas de proa,
figurantes de gravata e povo que dá votos, então já se trata de uma outra
qualquer simulação. O que não é justo tendo em vista o fim a que se destina. É
que para treinar corpos de bombeiros é perfeitamente dispensável dar festas. Se
é treinamento feito com competência, ele mostrará por si só os resultados. Mas
não é apenas a soma da festa com o simulacro. Numa altura em que o país arde
literalmente, em que o país chora lágrimas de recordação pelos que morreram no
combate ao monstro, ficava bem que a data marcada para a agilização dos meios
de ajuda simulada ao Chiado, ou a qualquer outro ‘chiado’, tivesse sido bem
pensada. Agendamento infeliz, para não lhe chamar provocação. Será que toda a
logística técnica posta no ‘teatro’ de operações do simulacro, face ao momento
dantesco que se vive por esse país fora, não teria sido mais útil no
refrescamento dos companheiros exaustos que há várias semanas têm jogo marcado
com o inferno? Trezentos elementos dos bombeiros é muito bom companheirismo
para engrossar a fileira dos restantes valorosos homens e mulheres destacados
em Tondela, Igreja / Gondar-Amarante, Sra. Boa Morte / Correlhã-Ponte de Lima,
Montemuro / Alhões-Cinfães, Feitalinho / Arcozelo das Maias-Oliveira de Frades,
Ferraria / Sedielos-Peso da Régua, Estrumil / Oriz-Vila Verde, São Pedro de
Veiga de Lila- Valpaços. São muitos, não são? E trágicos até dizer chega! E
oitenta veículos não seriam uma boa ajuda no apoio aos heróis de Portugal? Tudo
isto me mete muita confusão. Estou mas é farto de imponentes ‘metanarrativas’ e
a ansiar por interdependências que se transformem numa mais-valia para todos.
Obrigado, bombeiros portugueses. São os únicos que batalham abnegadamente sem
que para isso estejam a pensar em eleições ou em votos. Votos, só desejam os de
muita sorte. Um bem-haja a todos.
Mário Rui
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