“Não tenho obrigação de resolver as dificuldades que criei. Que as minhas ideias sejam sempre um tanto díspares, ou pareçam mesmo contradizer-se, se ao menos forem ideias que permitam aos leitores encontrar material que os leve a pensar por si próprios.”
Gotthold Lessing
Ouço falar tanto em mercados que dou
por mim a pensar no tempo antigo em que estas actividades comerciais tinham um
começo e um fim. Para além das
transacções aí efectuadas, a vida de então não era mais comercial que o
estritamente necessário. Hoje, há gente
que nos quer fazer crer estar de tal modo privada de tempo, quais tarefas
capitais de que julgam ocupar-se, que
até o próprio tempo assume um valor comercial. Tudo tem um preço. Qualquer que seja a
actividade desenvolvida, mas em particular na política, o resumo da mesma assenta
apenas numa relação comercial/contratual e jamais se baseia no socialmente razoável ou
na reciprocidade. Trata-se de área de mercado
que deveria servir de exemplo no que toca à densidade de trocas e baldrocas,
que aumentam de modo exponencial, e sem que isso se traduza em serventia para
os que, não se ocupando do trato da coisa pública, se vêm cada vez mais espoliados
dos seus direitos. O resto, isto é, pensar de outro modo, é um erro puro! Nada importante é oferecido aos demais
portugueses; bem pelo contrário, são os portugueses que têm de fazer o seu
próprio futuro, de construí-lo. Mesmo com os maus exemplos vindos de quem vêm. Portanto,
ignorar que, se o proveito próprio à custa e sem respeito pelos outros é uma vil
coisa que se faz, também nós podemos pensar que a justa distribuição de
benefícios aos carenciados é uma coisa que há que fazer, que há que fabricar.
Bem sei que assim não pensam os que escravizam a sociedade civil produtiva, não
porque desconheçam tudo isto, que é absolutamente elementar, mas porque acham
que tirando do muito que têm para dar aos semelhantes os deixa mais
vulneráveis, menos resolvidos do que nunca. Pois bem, com lições de opulência da
natureza da que nos entra todos os dias em casa, politiqueira, com remetente
conhecido e não menos avisado destinatário, só posso acabar dizendo que o
conceito de «político», perante o sistema instalado por algumas espécies que têm
nidificado em vários troços, já se me esqueceu. Agora já só me resta
lamentá-los e quando me tentam chamar à razão porque me acham errado, respondo
do modo esclarecido que bem conheço; «… pois, foi um génio benfeitor do meu
país o primeiro que, em lugar de matar os escravos, idealizou conservar-lhes a
vida e aproveitar o seu labor!! Foi, e é, um maravilhoso avanço civilizacional o
sistema político de Portugal…» Em que
repartição pública posso deixar o meu agradecimento??
Mário Rui
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