O episódio acontecido no passado domingo no jogo entre o FC
Barcelona e o Villarreal, em que Daniel Alves come uma banana que lhe é atirada
das bancadas, era afinal uma campanha de marketing levada a cabo pela agência
de publicidade brasileira Loducca. A campanha, cujo mote era
“somostodosmacacos”, gerou nas redes sociais uma enorme onda de manifestações
contra o racismo e foi idealizada por Neymar, uma das estrelas do Barcelona e
da selecção do Brasil, depois de ter sido vítima de episódio racista num jogo
entre o Barcelona e o Espanhol. Quem adianta a notícia é a revista brasileira
Veja à qual Guga Zetzer, sócio da agência de publicidade, em entrevista, explicou
ter-se tratado de uma campanha planeada duas semanas antes do jogo, altura em
que Neymar os havia contactado para avançar com uma campanha para marcar uma
posição relativamente às manifestações racistas. A ideia, inicialmente, seria
criar um movimento, que teria início com Neymar a comer a banana e não com
Daniel Alves. Na altura do jogo, este último, que não sabia da campanha, quando
esta lhe foi atirada, pegou na banana e comeu-a naturalmente: “O Neymar ia
comer, mas como foi o Dani, maravilha também” afirma o publicitário. Às
manifestações de desagrado que possam acontecer por se saber publicamente que
se trata de uma campanha e não de um episódio natural, o publicitário responde:
“Tentar desmerecer o movimento pelo fato de ter uma agência por trás é tão
preconceituoso como um adepto atirar uma banana”
O bananal dos idiotas
Claro que não está em causa a campanha posta em marcha com
objectivo tão claro quanto a repulsa relativamente a todos os actos xenófobos
e/ou combate a atitude hostil ou discriminatória apontada a um grupo de pessoas
com características diferentes, nomeadamente a etnia, a religião, a cultura,
vulgo racismo. Para o fim em vista, e mercê das inconsciências bestiolas
populares que “macaqueiam” o que não deve existir, quase apetece dizer que toda
e qualquer batalha que trave tais ímpetos só pode ser passo certo no sentido da
justa e completa aniquilação do carácter perverso dos que insistem no conceito
de raças. O conceito de raças é uma triste invenção social posto que as
populações humanas não são grupos claramente demarcados e biologicamente
diferentes. Mas enfim, ser-se estúpido parece ser ainda hoje uma necessidade,
quase um ideal, na feira montada por alguns idiotas. Bom, mas encerrado este
pensamento, mesmo valendo indistinto combate que ponha fim à catalogação de
humanos, não deixa de ser curiosa a forma como a aludida agência de publicidade
e o interveniente directo, de modo muito simples, foram capazes de capacitar
meio mundo para perceber as mais óbvias realidades e assim terem conseguido a
integração de grande parte da consciência mundial para a causa, capacitação sem
a qual um humano não pode sequer argumentar de maneira razoável. Ainda bem que
o objectivo foi conseguido e se dúvidas tivéssemos quanto ao efeito provocado,
bastaria uma rápida consulta ao que por aí se diz e faz, mobilização do
“macaco” e da “banana”, para melhor percebermos do alcance que hoje tem uma
qualquer publicidade bem urdida. Destas não tenho eu medo e muito menos as
condeno. Tenho pavor é às outras que parecendo parir verdades incontornáveis,
mais não fazem senão parirem apressadamente prostituições que tendem a
incutir-nos crenças que nos impressionem. No mais das vezes, estas, criam em
muitos de nós uma espécie de “coltura pop" que, construída em cima de
inverdades ardilosamente mascaradas de coisa séria, só servem afinal de
sacrifício dos distraídos diante dos falsos ídolos . Então, se por um lado
aplaudi a primeira empreitada deste escrito, não ficaria de bem comigo mesmo se
não lembrasse aqui esta última que tantas vezes tem amolecido o eixo nervoso de
tão boa gente. Aconselhou um dia o apóstolo; «experimentai de tudo mas ficai
com o que é bom». E tinha razão!
Mário Rui
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