Para
os que andam com a cabeça na Lua, nada melhor que o peso de um chapéu. É
verdade, há pessoas a quem o chapéu fica bem não só pelo efeito estético que
produz mas sobretudo porque é um excelente acessório para manter a cabeça no
seu devido lugar. Mais largo ou menos alto, é indiferente. Importante é que
fique justo no sítio onde deve estar pois só assim garantirá a eficácia que
dele se espera. Chapéu que voe à primeira lufada de ar é cobertura que não
serve a cabeças carentes e se se adivinha rajada, então o melhor é mesmo
prendê-lo. Pode ser com alças, com banda, fivela, laço, o que se queira, mas
nunca por meio de fina guita que possa atraiçoar o amo de tal acessório. A
juntar a todos estes benefícios deve-se considerar ainda uma outra vantagem
quanto ao uso do dito; quando cansado de si mesmo, pode o enchapelado dar uma
de brilho e assim como quem não quer a coisa, querendo-a, terá direito a alguns
momentos de fulgor. Se outro não for, pode ser confundido, ou tido, por
exemplo, como sendo o Frank Sinatra ou até o Humphrey Bogart dos dias de hoje.
Claro que se se tratar de enchapelado mais afoito, passará certamente por
Indiana Jones. Tem outro proveito, o chapéu. Quando acontecem aquelas noites
que necessariamente, seja qual for o motivo, se prolongam e se prolongam, não
haverá qualquer possibilidade de ir à cama quebrando assim o charme obtido pois
que não dá jeito nenhum dormir com cogumelo enfiado. Em suma, chapéu ou
chapelada das boas é certeza antecipada de sucesso. Não sei da razão porque me
deu para falar disto mas se calhar terá a ver com a dificuldade que muitos têm
em tilintar com libras de oiro fino e, portanto, a cobertura para a cabeça é
uma barata e singular dilatação ajustada aos dias de hoje. E atenção, cai por
terra a opinião do Vasco, o Santana, quando dizia que «chapéus há muitos, seu
palerma…». Vejam lá bem o tempo que levou a desmontar essa teoria. O chapéu é
coisa única! Bom, em suma, entre a pobreza dos meus ideais artísticos e
utilitários e a tolice dos meus recursos picturais, há por certo um abismo de
incompreensão por parte dos outros que só os pode conduzir a uma ideia; a de
que o chapéu está a fazer muita falta mas é a mim mesmo. Tudo bem, mas sigam lá
os meus conselhos, aperaltem-se, e depois digam-me se de muitas estranhas
cabeças não vão sair aptidões singulares só com recurso a um qualquer chapéu.
Fico à espera dos vossos resultados.
Mário
Rui
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