Tivessem
estas imagens sido o passaporte para um futuro tão risonho quanto o que os seus
mentores nos quiseram fazer crer e hoje estaríamos certamente num jeito de vida
que em nada se assemelharia ao presente afinal existente, quão difícil de
entender. À luz dos dias que correm, tratou-se simplesmente de propaganda feita
com objectivos contrários à igualdade, aos bons hábitos, e mais não fizeram
senão exercer uma infindável influência sobre a maneira de pensar e de sentir
de milhões de pessoas. Foi propaganda que se encarregou de anunciar,
enganosamente, os novos bens que iriam bater à porta dos desprevenidos e a que
poucos ousaram resistir pois que a perigos assim expostos, os demais, acharam por
bem calá-los evitando desse modo mais triste vida do que a levada até então.
Hoje, a propaganda, embora diferente quanto à forma, e pese embora o
encadeamento dos tempos que nos deram informação acrescida sobre as petulantes
fórmulas outrora estabelecidas, não é muito diferente no que toca ao conteúdo.
Bem se sabe que as modernas democracias já não têm espaço para acolher a
autoridade musculada do grande chefe ou a do timoneiro, mas nem por isso a
tendência para submeter o outro à norma propagandística deixou de ser usada.
Não é por se terem mudado antigas crenças ou por se terem alterado costumes
antigos que se conseguiu abrir caminho e mentes para todas as coisas novas e de
boa natureza. Os recorrentes casos de malfeitorias infligidas a muitos países, sobretudo
ao nosso, cobertas sob o manto de uma “respeitável” identidade individual ou de
pequeno grupo, assentes em novo estilo de propaganda, deram e continuam a dar
cobertura inimputável a tais actos e respectivos artífices beneficiários dos
ricos proventos que dessas práticas resultam. O que talvez diferencie este tipo
de propaganda de ontem relativamente à de hoje, e em especial os seus mentores, será a forma, como já referi. Se antes o desrespeito pela
norma “pedagogicamente” propagandeada era punido severamente e em tempo de
sofrimento curto, agora, os novos fazedores deste género de doutrina do
convencimento, lançam mão de original estratagema; estão sempre prontos a
condescender com a rebeldia dos que não estão convencidos, mas não sem que
antes tenham a quase certeza de que a procura pelas suas “recomendações” venha
a dar os resultados pretendidos. É tudo questão de modo como se estabelece o
padrão que mais tarde oriente o gosto dos outros e isso basta para os ganhar
para a causa. No mais das vezes, ou se calhar sempre, chegam as relações
virtuais contidas e mal percebidas na mensagem propagandística, mas isso também
não conta para nada posto que, melhor ou pior, muitos se rendem a essa pressão.
Pode-se perder algo de um lado, mas depois ganha-se muito de outro! E assim
sendo também pouco importa se entretanto se deixa um sem número de vítimas pelo
caminho, como outros o tinham feito antigamente, com mais furor e sangue, é
verdade, mas afinal não muito diferente de hoje já que, no presente mundo, a
emergente propaganda virtual difundida não olha a ganhos mútuos, como de resto
outrora acontecia. Tal como dantes, o entendimento de “relação” é a coisa mais
traiçoeira que se possa imaginar e se em tempos idos se dava muito uso à
guilhotina ou à prisão, agora nem é preciso contacto para eliminar fisicamente
os desprevenidos, os descrentes e os insubmissos. Para acabar com eles basta
fazer “delete”, coisa virtual mas igualmente eficaz, nessa máquina infernal com
teclado ao alcance dos dedos de um qualquer fazedor desse género de doutrina do
convencimento a que antes aludi. Pode-se-lhes prometer tudo, aos ditos; o sol,
a praia, a boa vida, o apartamento, o empréstimo para as férias, o carro, a
mais valia da cotação bolsista, o vício, o bom voto, o banco novo, o velho
banco, uns bons « fait divers» , o gozai sem barreiras, a volúpia, a
felicidade, o bom governo, o benefício da taxa social, a renascida
solidariedade, o ensino tendencialmente gratuito, a PT que foi do Bava, uma
nova empresa de saudáveis águas, outra que regule a vida da cidade, ou mesmo a
maneira de atingir o orgasmo fácil. Mas atenção, se toda esta gente mostrar
ingratidão futura para com tanta propaganda seguida desta farta oferta virtual,
então depois façam como sempre têm feito; comecem por mutilá-la docemente e vão
por aí fora até ao “delete”. Apagada que esteja do mundo dos que ainda
sobrevivem, outra virá, e nessa altura só há que acender os novos néons da
propaganda, ciclicamente virtual como convém, pois tais vendedores da banha da
cobra já há muito devem ter percebido que por mais justas que sejam essas
manifestações de ingratidão, elas não são, segura e infelizmente, testemunho do
descrédito deles mesmos, dos tais vendedores.
Mário
Rui
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