A
melhor idade é aquela em que os passos devoram léguas e todas as portas abrem
soalheiros destinos. A mais difícil das idades é a outra que já muito vivida
nada de novo encontra sob o Sol. Corpos tostados pela juventude são os que se
aprumam na estatura lassa quando assim mais convém mas também tidos de vigores
leoninos sempre que a cor dos desejos reclama expressão da última elegância.
Corpos cansados marcados pela vida cujas explorações deles muito cedo fizeram
gente, são corpos hoje desconsolados no alongamento das badaladas que caem no
poente da vida. Quer os mais novos, quer os mais gastos, mostram fragmentos de
palestras contadas de passagem ante a delícia de uma pintura fresca para depois
vir uma procissão de desvanecimentos, vasto plaino de recordações e muitas
mágoas. Assim é boa a vida, diz a gente moça forte e triunfadora, assim é
esmorecida a vida, cheia de esfalfamentos e que aflige, sentem os da vaga
melancolia contemplativa. E um vento vagaroso passa por entre todos estes
rostos, ora refrescando lábios ardentes a uns, ora estafando a paciência já não
tida a outros. Idades, são idades, as novas sem vacilações ou receios, as
velhas com acumulação de juros trazendo dias escuros como breu com noites
entrecortadas de frios que esburacam soluços de um desconforto que dói. A lei
da mensurabilidade de uma existência é amiga dos que têm menos idade e faz do
pouco muito, já aos mais avançados no tempo de estar mostra garras de fera
imensamente imbecil. Se eu mandasse, a regra para todos seria esta; “anda deitar-te,
gente. Tem paciência hoje, amanhã só farás o que muito bem te apetecer”. E como
de costume a noite cairia mas já ninguém a passaria sentado diante do espelho
para fazer companhia a si próprio.
Mário
Rui
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