Às
vezes cómico, às vezes sinistro, lá vamos respirando o mistério (LER AQUI)
Sonhar
e pensar, ou se preferirem pensar e só depois sonhar, é a única liberdade que a
todos assiste, o que vale por dizer que talvez seja esta a derradeira
democracia pura e soberana irrevogavelmente condenada a permanecer em cada um
de nós como licença gratuita para contrairmos os anseios mais profundos por
vida melhor. Vem esta reflexão a propósito da discutida e ainda não resolvida
tendência para a entrega da gestão das escolas às câmaras municipais. Não sei
se sonhei, mas seguramente pensei sobre o assunto, e fazendo então uso da minha
liberdade, duas ou três coisas me ocorrem. Desde logo uma opinião desconfiada
quanto à medida pois não me parece que concorra para uma vida melhor, anseio
primeiro de qualquer mortal. Transferir para o poder local área tão sensível
como esta, é tão-só abandonar uma lógica estável e passar a contar com um
padrão pouco discernível - a julgar pela experiência em outras áreas de muito
mais simples administração sob a alçada das autarquias - e cujos resultados tão
maus têm sido não obstante a pouca complexidade envolvida. Por outro lado, a
ideia desta transferência de competências parece-me ser apenas o resultado de
mais uma experiência deste desconjuntado tempo que cambaleia de episódio
inesperado em episódio inesperado que ameaça a solidez – melhor ou pior, mas
ainda assim equilibrada – da “instrução” portuguesa. Ou me engano muito ou os
modos habituais de comportamento e aprendizagem vão ficar suspensos em teias
político-locais, não augurando nada de bom para o futuro. Acresce que, aqui
talvez já tenha sido sonho meu bem pensado, iremos passar a lidar com a
obstinada presença do poder político nas escolas, coisa que será garantidamente
intrusiva – veja-se o que se passa em outros domínios – e por isso mesmo ainda
mais incapacitante para os que querem aprender e se calhar para alguns que
querem ensinar. Se exemplos desses não existissem, poderíamos porventura ficar
sossegados, mas existem e ponto final! A “instrução”, a cultura, são os únicos
bens que não se encolhem e quanto mais usados mais se expandem pelo que não
venham agora novas inventivas controladeiras tomar rédeas de cavalo alheio. Uma
última nota; neste momento, carregar a tocha da aprendizagem até aos mais
sombrios recantos do habitat político, por vezes malsão que se farta, julgo ser
um vácuo de credibilidade para o ensino e em particular para quem dele precisa.
Mário
Rui
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