Quantos
dias de Outono já não passei dentro da política, tentando ouvir e traduzir o
que ela me diz. Tendo concluído que pouco me vai acrescentar, se calhar não me
vai dar mais do que o que agora tenho, decidi que tinha de me virar por mim
mesmo e passei então a encarar de modo mais exclusivo a compreensão do dito
pelos políticos, mas também e especialmente do que vociferam os muitos que
vislumbram ao virar da esquina um futuro menos dispendioso, uma vida mais
barata. Ora, intuindo ser tudo isto contabilidade feita num pequeno escritório
de contas arriscadas, atrevo-me pela opção de levar por diante uma série de
assuntos meus sem grandes obstáculos, pois ser impedido de realizá-los por
falta de bom senso é que seria coisa não só lamentável como ridícula e
perigosa. Lá vou estudando a vida de todos os grandes mestres da ciência
política, actualizando igualmente o trajecto de todos os grandes descobridores
das novas auroras, tentando perceber as modernas rotas de muitos aventureiros
já que, em resumo, me convém proceder de tempo em tempo a um balanço de stock
para verificar como as coisas andam. Tem sido um trabalho por vezes chato pois
desafia-me a um silêncio introspectivo e custoso, mas mesmo assim tem valido o
esforço. Calcular os problemas dos lucros e das desvantagens daí decorrentes,
bem assim como todo o tipo de aferição ao que de bacoco se tem dito e escrito,
é tarefa que me tem feito mudo, que não quedo, afinal talvez proveito que a minha boa política
manda não divulgar sobretudo porque só tenho visto cabides onde se penduram
roupas sujas que são a marca da personalidade de quem as veste. Pois muito bem,
desejo a todos muitas venturas e votem em que vos apetecer, mas depois não se
arrependam!
Mário Rui
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