Não,
não e não (LER
AQUI)! Desculpem lá. Podemos estar todos falidos, podemos ter o dorso curvo
de tantos sacrifícios, podemos ir fuzilando as nossas próprias cóleras pelo
tanto que nos pedem, podemos domesticar ferocidades de temperamento por sabermos que estamos num país
violentamente empobrecido e até podemos ir concedendo, ainda que hermeticamente
fechados, o benefício da dúvida a quem tem de gerir o pouco que Portugal tem.
Mas tudo isto não se pode trocar por cinismos a que alguns votam os mais
carentes, dizendo-lhes despudoradamente que isto é uma luta imprescindível.
Caramba, isto é fazer violência à mais necessitada natureza de quem não pode! A
vida dos que lutam pela vida, o desespero da luta pela existência, a
desesperada guerra em que muitos se vão, merece mais respeito! Se temos de
perder uma pessoa que nos é muito querida, serão estes excrementos de leis que fazem
justiça à condição humana? Mas pode um escravo da doença ser dupla vítima pela
maleita e pela injustiça de alguns homens? Sabem, seus burros legisladores, a
bondade que nasce do cansaço de sofrer, às vezes é um horror mais suportável do
que esse silencioso mas matreiro colapso dessas câmaras de decretar leis que
vocês idealizam. E se ninguém vos chamar os nomes que eu vos chamei, um dia
v.exas. transformarão os baptismos em culto de fraqueza e os enterros em humor!
Há dor que está no peito de quem se sente arrombado para a vida e a mim dói-me
saber que também há gente que não sente qualquer dor pelo padecimento de quem
se despede de nós. Não haverá por aí sítio melhor onde se procure dinheiro que
remedeie tão pegajosa tristeza em que estamos? É mesmo necessário aconselhar que coma menos quem
está morrendo de fome? Não dá para pedir aos fartos que comam menos? E essa da “esperança
de vida de três anos de vida” faz-me pensar se não terão os legisladores virado
deuses. A vontade constante de Deus passou agora para as vossas mãos? Peço
desculpa pela linguagem, mas se em todas estas medidas a força da indiferença acaba
por triunfar, porque é que devo ser educado com a ingratidão?
Mário Rui
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