Estou “felicíssimo” com este final de ano.
Sobretudo por ver diariamente a minha caixa de correio engolir um fartote de
envelopes vindos de gente que mal conheço mas que frequentemente se lembra de
mim. Ao invés do que se possa pensar, são envoltórios que não afligem
excessivamente a minha razão, o que faz com que cada vez mais só me apeteça
lançar um olhar o mais desdenhoso possível, não aos sobrescritos, mas antes a
quem lá põe dentro a mensagem. E a mensagem é essa baça intriga feita pelos
respectivos remetentes – vozes que cantam em coro e sempre as mesmas – turba
que resolve chamar ao recado «actualização de preços para 2016». Veja-se a
aldeia, vila, cidade, o País; luz, gás, televisão, rádio, água, seguros,
resíduos, saneamento, tudo isto não é seguramente tão caro a
produzir-facultar-tratar quanto aquilo que me exigem que pague! Somem-lhe agora
taxas de passagem - para e pelo além - custos administrativos, taxas de
ocupação, taxas de exploração, contribuições especiais, taxas de manutenção,
custos de fraccionamento, quotas de serviço, taxa adicional, taxa de
conservação, taxa de protecção civil, taxa de vistoria, e assim vamos de
tributo em tributo até à seca total. Isto, sim, é que é intolerável e
revoltante, ímpio e subversivo! Pago o justo, não me importo, chateia-me pagar
é o mal profundo que as coisas apenas miseráveis representam. Quais? As
espertices dos hábeis que enriquecem irreverentemente fazendo o seu caminho
faustoso sem consultarem, e muito menos sem pedirem licença ao bolso dos que
pagam para além do razoável. Vaidades omnipotentes que fazem dos que pagam só
vassalos e dos que lucram só soberba. E a gente ri-se, e a gente assobia para o
lado, e a gente aplaude abortos em vez de indignação fecunda. Para este grande
sentimento de reprovação é que eram necessários os grandes cidadãos e assim
talvez um dia pagássemos menos por tudo o que vale pouco mas que, de modo
capcioso, nos dizem custar muito mais que o aceitável. Que pena tenho que por
entre estas dúvidas do que fazer, só fiquem estes abalos, estas setas apontadas
à consciência dos humildes cobrados. Do pagode, restarão almas menores, mais
tristes e mais pobres. E viva a “actualização”, mais um viva à “taxa”, pois
quanto aos resto dos tachos muitos são os que continuam bem servidos. O que é
preciso é astúcia para se conseguir viver neste meio.
Mário Rui
___________________________ __________________________
___________________________ __________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário