Não
é que desgoste de uma boa ganga rota em corpos reverdecidos e, de preferência,
quando a vestir o generoso e belo feminino. Mesmo que a calça mostre desculpas
descosidas, ou até esfarrapadas, a obra de arte que o esburacado mostra é
sempre uma porção de sensibilidade visionada, e interpretá-la é historiar a
existência exterior, infelizmente mais que a interior, de quem a subscreve. Mas
gosto, pronto. Em todo o caso, neste particular da moda e porque acho que ela
tem um lado verdadeiramente lunar, já tentei perceber as faces da lua mas,
concedo, nunca consegui ir além do quarto-minguante. Certamente defeito meu já
que até o Comité Olímpico Português acha que as peças do traje oficial
"inspiram-se na tendência “patch”, com remendos de ganga nas
calças...", "...com o objectivo de romper com os fardamentos
clássicos usados habitualmente...".Tudo bem, até aqui, mas que diabo, com
um sorriso em meia-lua de moda, também não teria ficado mal ao Comité vestir a
nossa representação de cambiante que fosse ainda mais ao temperamento luso. É
que, não obstante o remendado me gerar ‘pica’, fico a perguntar-me se esta
maneira de apresentar as nossas caras-lindas não revelará a descrição da nossa
realidade. Pobre e, com muita mágoa minha, uma só medalha. Neste caso, nem
remendados lá chegámos o que prova que o alfaiate protagonista deve saber,
desde o início, como vai acabar a sua aventura. Chamo-me Mário Rui e deixo
beijinhos às meninas da ganga rota e abraços aos meninos com bacalhau retorcido
no colarinho. E assim acabo este escrito pois crónica boa quer-se como a saia;
quanto mais curta, melhor. E nada me move contra a calça, se bem calçada.
Mário
Rui
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