Que me desculpem os apaniguados
do Halloween mas a verdade é que me acho um tipo orgulhoso da minha origem, se
quiserem até da minha plebeidade, e por isso não compreendo essa coisa que
descaracteriza e achincalha a minha rua e sobretudo a minha tradição. Prefiro
as noites de festa vividas em trajes comuns às celebradas em vestes
esfarrapadas. E se estas orações de agonia , trazidas à rua por via de uma
espécie autopsial já de si meia cadavérica, podem fazer o gozo de uns tantos,
então adeusinho à ressurreição estética das boas festas à portuguesa. Lá vamos
ficando sem tradição que nos escude, nem originalidade que a credite. Não gosto
nada desta solenização das trevas e de maxilas desdentadas que comem a minha
terra e que me obrigam a ‘fugir-me'. Celebração de quê? Só se for lá nos
“States”, por cá há certamente muito melhor do que isto. Poucos têm orgulho do
seu lugar e muitos fazem por se dar à cópia. E a cereja no topo do bolo,
calculem, li-a há instantes; há salas de cinema que assinalam este dia do tal
Halloween com a projecção da “Laranja Mecânica”, do Kubrick. Tem tudo a ver,
está visto. Ah, raio de vida! Lá tenho eu de ir às minhas recordações buscar o
assunto das minhas páginas festivas para ver se apago epitáfios que me
entristecem.
Mário
Rui
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