O
rato aterrado (LER
AQUI)
Um
rato aterrou na sala de aula. Não voava, mas tinha cores biliosas, cabelos
intratáveis, ombros largos. Tinha ficado de uma mocidade iletrada e de educação
escusa por moinice de meninice. Mas aprestou-se a iluminar o silêncio da sua
ignorância com vista a um saber extraordinário e profundo. Um rato aterrou na
sala de aula. Aterrou, e ninguém teve a paciência de aturar o seu insucesso.
Tivesse ele vindo a caminhar, intransigente, com os feros orgulhos de roedor, e
a gazeta do dia não faria dele notícia. Mas aterrou. E, assim, a impetuosa
necessidade de se informar para não se informar, que se supõe constituir a
impecabilidade moral de manter atento o leitor, deu à estampa a aterragem. O
país em suspenso por horas! Alunos em debandada, salas evacuadas, jornais,
cadeias de televisão, fotógrafos, bombeiros, proteção civil, tudo pronto a
mover processo elucidativo público a favor desta rotina de jornalismo morto!
Mas faz sentido: o país tinha de convergir para resolver de vez o insolúvel
problema do rato que aterrou na sala de aula. Problema da vida nacional. Quase
toda a gente foi vê-lo, ao rato. Afinal, em Portugal, um rato na escola é uma
familiaridade a conversar! Parabéns, imprensa, um rato, sendo assim tão ávido
de escola, não podia viver tão só.
Mário
Rui
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