O
nariz torcido de alguns contra as novas tecnologias que melhoraram
exponencialmente a vida das pessoas não é algo novo. A atitude vai desde a
simples dúvida até ao alarmismo que se levanta face ao que é avanço. Uma
postura que, de resto, faz lembrar outros tempos em que receio semelhante se
instalava sempre e quando o mundo dava um pulo para diante. Foi assim em 1809
com a reacção à ideia da iluminação pública a gás e algo semelhante se passou
em 1839 com o conceito da anestesia na medicina. Mais recentemente, em 1999, o
pânico passou a morar na cabecinha dos cépticos pois defendiam que o comércio
electrónico ameaçava destruir mais do que poderia criar. Julgo saber que ainda
há quem ache a simples calculadora de bolso superior ao computador e,
carregando mais nas cores, os que afirmam a pés juntos ser o cavalo mais
duradouro e fiável do que o terror do automóvel. Estes últimos, certamente,
defenderão ainda que os automóveis destruíram o negócio dos estábulos e mudaram
para sempre a forma como as pessoas namoram ao acabar com a tradição dos
passeios românticos de carruagem. Temos pena mas o mundo anda para a frente e
por tal convém aos pessimistas fazer de vez em quando uns intervalos lúcidos de
pensamento. Dito isto, trago esta conversa a terreiro pela simples razão de não
perceber os insistentes do “antigamente é que era bom”. É que não os compreendo
nessa pulsão que os deixa imbuídos de certezas absolutas quanto a esse passado
que, pelos vistos, era o alfa e o ómega da existência humana. E com tanta gente
hostil ao novo, ao moderno, ao que de melhor se foi fazendo à escala
planetária, gostaria de saber da razão por que estão os centros comerciais
cheios quando afinal ninguém os frequenta. E porque será que se vendem milhões
de telemóveis posto que já ninguém telefona a ninguém. Computadores enxameiam os
lares. Também não entendo para quê se afinal ninguém tecla o que quer que seja.
Fotografias, aos biliões, mas ninguém as tira porque isso é lista de novos
pecados. Máquinas para fazer o clique, nem pensar. Ninguém as compra pois as
lojas estão a abarrotar delas. Automóveis, caros e bonitos; não há quem os
queira mas que eles rolam, rolam, sem os donos, pois claro. Pessoalmente não
aprecio tal aliança de muitas pessoas com a coisa de antanho. Dão o litro por
ela, mas nada salva essa tentativa poética e patética de a guindar ao elogio
pois quando lhes falta a modernidade logo mostram a melhor das compreensões
para a comprar a qualquer preço. Não fosse eu novo há muitos anos mas
contemporaneamente envelhecido, que remédio, e esta crónica de tempos vividos seria
um tal desancar em gente cujas células cerebrais me parecem bastante instáveis.
Isto porque escrever sobre alguns relhos é apenas estar atento.
Mário
Rui
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