Às
vezes, as eleições no meu País são uma coisa estranha. Às vezes, no meu País,
os apelos ao voto são coisas grotescas, mesmo que impregnadas de bons
propósitos, parecendo mais nuvens densas de gases hilariantes do que
propriamente chamamento sério à causa pública. Às vezes, no meu País, os casos
cómicos alternam com os menos risíveis, sendo que os primeiros se sobrepõem em
número aos segundos. Às vezes, no meu País, seja pela fertilidade da foto ou
pelo assombroso de figuras, mas sobretudo de frases achadas apelativas, há que
manusear bem estas colecções de estampas políticas, repito, mesmo que vestidas
de bons propósitos, de modo a podermos ter uma ideia precisa da sociedade do
nosso tempo e, em particular, da que vai a votos, quer se trate dos seus
costumeiros ridículos ou dos seus atinados apelos. Mas enfim, no meu País, a
grande crónica do nosso quotidiano, para ser perfeita, teria de ser escrita por
Aristóteles e ilustrada por um grande caricaturista, já que o que me parece
exagero nada mais é do que a realidade de hoje. No meu País, podemos brincar
com coisas sérias, o que não devemos é levar as coisas sérias ao carrocel da
feira já que, mal a cabeça comece a pensar, a coisa pode tornar-se em vulcão
pronto a vomitar magma incendiário. E lá porque a terra se chame Fornos ou
Matança, não haverá por certo necessidade de as fazer acompanhar de suposto
pasmo de expressionismo linguístico trazendo à memória coisas e actos que
destruíram o mundo por tudo o que foram e representaram de horrendo. No meu
País, esta até pode ser uma interpretação tonta dos meus cabelos brancos, mas a
verdade é que é assim que eu vejo a atmosfera pesada destes cartazes. Quando,
no meu entender, se quer brincar com certas coisas sérias, tentando fazer delas
parolas figurinhas trágico-humorísticas, fico logo apetrechado com uma “arma”
por causa dos “simpatiquíssimos” actores e autores que babam dos lábios coisas
sem sentido, e tudo isto pelo simples pretexto de encher espaço, de fazer
palpitante e de vender o género ao freguês rapidamente.
Mário Rui
___________________________ _____________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário