Dois
centímetros que na leitura dos cientistas da bola, são quase dois quilómetros
A
ditadura milimétrica promovida pela tecnologia, de facto ajuda sobremaneira à
paixão pelo futebol. Estamos a melhorar muito, mas piorámos bastante. A mim
pouco me diz esta propalada sacrossanta maneira de ajuizar, quando quem a vê, a
utiliza e dela faz lei, são olhos com meneios ocultos de fanatismo. Dois
centímetros em fora-de-jogo, é a única verdadeira e eficazmente poderosa arma,
das que compõem o futebol moderno em Portugal. Dois centímetros em fora-de-jogo
apenas abrem caminho e subministram pretextos por todo o país a uma reacção
deplorável seja a que clube for. É um acontecimento grave, tanto pela sua
“violência” e exageração como pelos efeitos desumanos que despertam, porque a
essas manifestações decididas pelo olho electrónico do VAR, associadas a uma
certa inquisição humana, se deve juntar uma reacção moral que desmoraliza quem
gosta do jogo. É aí que está o perigo para o futuro. Passando triunfalmente no
meio das multidões no estádio, assentando no velho e roto pavês do absolutismo,
que se eleva sobre uma selva de dúvidas, é um espectáculo repugnante mas muito
“útil” a este progresso da aparência. Ou seja, moral e economicamente, os
desvarios que se estão perpetrando e o exubero que se tem vertido no
fora-de-jogo, virão certamente a ter preço de resultado imenso, que será a
aniquilação do jogo da bola por essa força bruta da ciência e de mentes
encarregadas nominalmente, ou não, de cumprir um dever que é uma ofensa para
todos os clubes e seus adeptos. E quanto mais se abusar delas, mais depressa
chegará o dia do último desengano, e o futebol, amestrado por experiências
tremendas, cortará, enfim, a última artéria que ainda lhe faz bater a bola no
relvado, tal é a tirania desesperada aplicada a lances destes. Tudo isso
tumultua e brada e, assim, os milagres absurdos multiplicam-se, o que é
altamente prejudicial para a competição. Sem o chamamento de todas as partes
inteligentes ao relvado dos clubes, jamais se resolverá para melhor esta regra
estúpida do jogo. Mas que não venham revestidas de mil teorias que surgem para
morrerem, de mil esforços perdidos. Salve-se pois o FUTEBOL!
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