A
casa do senhor ministro foi assaltada. O país, a imprensa, está alerta! A
polícia dá giz no taco. A mais extremada investigação está em curso, o caso faz
barulho na terra que somos. Mas se isto fosse uma razão para falar, muita gente
estaria calada neste país de palradores. Uma passadeira de comoções
jornalísticas deixa atrás de si um largo traço de espuma condoída. O senhor
ministro ficou sem o telemóvel e os escribas salpicam-lhe veneras por tão
hediondo crime sofrido, duro. No norte e no centro prepara-se a proibição da
pesca da espécie. E num entardecer de Outubro, que lá para 29 deste mês vai
começar a ser o ‘prestígio’ de dias que escurecem mais cedo, uma comissão de
sardinhas vai cumprimentar um pescador pelos seus trabalhos marítimos. Os
bravos que se arranjem, que mudem de emprego, e os palradores do costume,
descuidados num grande ar de alheamento pela sorte dos humildes, nem dão pelo
momento de confusão dos que pescam sobrevivências, nem ouvem os gemidos dos que
sofrem, nem assistem às convulsões dos que agonizam. A casa do senhor ministro
foi assaltada e a atenção deles concentra-se nesta perturbação de lesa-pátria.
Como se não fosse abominável atirar para o nada desempregos que alvorecem. A
norte e no centro. A sul, só os telemóveis desaparecem. Caramba, tudo acontece
ao norte e ao centro. E então, muito calmo, muito resignado, como quem aceita
os fados, agora é o norte do pescador que vira poente, como outrora foi a
agricultura que virou ocaso. Até das minhas dúvidas já duvido, mas há algo que
sei; em jeito de quem dizia examinar as coisas com tino, a lavoura nacional
tinha muito de admiração mas afinal não fazia nada por Portugal. Fizeram-lhe um
enterro cheio de graças mas, sabe-se agora, num cumprimento desrespeitoso.
Repetir-se-á a história? Da pesca pouco sei e das reservas do pescado ainda
menos. Conheço bem é os ladrões que se aproveitam daquela espécie de sono
hipnótico para aligeirarem os bolsos dos que pouco têm. Estou insatisfeito com
recordações tristes do passado e com muitas apreensões pelo futuro. Que se
lixem os telemóveis e ministros também há muitos!
Mário
Rui
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