Não
ficaria nada admirado se me dissessem que o número de vigaristas existentes em
Portugal ultrapassa em larga escala o número dos que têm por função julgá-los.
Acho
que se percebe bem esta relação, pois, como se tem visto, é incomensuravelmente
mais fácil dar à cena trafulhice e canalhice do que propriamente esquadrinhá-la
para a arrancar pela raiz.
De
resto, sou obviamente pelos que estudam as estratégias dos trapaceiros, os seus
métodos, técnicas de manipulação e suas ocultações.
Se
pouco ou nada se fizer contra os avanços desta prole, bem que podemos seguir
sendo uns bons cretinos, ou mesmo ignorantes.
Acresce
ainda que a ciência da trafulhice é uma das que mais progride no país, opera à
escala nacional e além-fronteiras, resultando disto a multiplicação de tais
aldrabões que jamais se dão conta de sê-lo.
Mas,
assim dito, e no que às instâncias que julgam actos reprováveis diz respeito,
seria útil que revelassem bom senso, rigor e sobretudo ética profissional no
desempenho da função.
Convinha-nos
muito, não vá a gente começar a contabilizar o número de intérpretes das
citadas instâncias que só vasculham com tanto zelo e rigor quando isso lhes pode
esconder pecados próprios.
Pior
ainda, pode deixar nos cidadãos impolutos a ideia de justiça que aspira a
exibir e enaltecer a glória de uma cura divina mal dirigida, matreiramente
arquitectada, porque feita por gente com pouca civilidade.
Quem
a não tiver recebido de nascença, ao menos que a adquira pela educação.
De
outro modo teremos a espada da justiça a dilacerar em lugar da justiça da
espada a pontificar, o que só servirá para nos dizer o que já deveria ter sido
feito mas afinal não se fez.
É
essa a precisa altura, ou alturas, em que a justiça passa a ser um arremedo
grotesco de sabedoria difusa.
E
quanto ao presidente do meu Clube do coração, pelos vistos também ele um
coleccionador de asneiras, seria bom que adoptasse igualmente postura com tino
uma vez que, quando as acções de um homem se começam a reduzir a infracções, o
que sobra é tão-só enveredar por uma educação para a cidadania.
Uma
boa opção, esta última.
Se
não o fizer, insistirá, como outros tristes presidentes de grandes clubes, em
entretenimentos pueris e desprezíveis, quando não francamente deprimentes.
Mário
Rui
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