Questão
sobre a qual muita gente se debruçará hoje, será a de saber o que virá de
quotidiano logo que se vá em definitivo o vírus. Se calhar não tanto pensando
em hipotéticas novas realidades, essas são mais do que certas, mas antes no
modo como vamos conviver com elas. Claro que não sendo conhecida a composição
de dias futuros, fácil também não será encontrar hoje roupa que lhe sirva e
assim sacie o nosso roupeiro de dúvidas. No entanto, há já uma certeza e essa
parece-me inquestionável. Não tendo ainda começado a segunda parte do confronto
entre o que já fomos e o que vamos ser, bem podemos estar cientes de que haverá
uma enorme diferença entre aquilo que já vivemos e aquilo que é pensado sobre
aquilo que falta viver. É pena é que tenha sido a irrupção inesperada de um
acontecimento de peso, a determinar uma nova hierarquia de compromissos, de
posturas sociais, de trilhos individuais, de actividades humanas, de valores e
de crenças. Há quem defenda a pós-pandemia como podendo ser uma lufada de ar
fresco que melhore estas condições já de si muito ocas de recheio. Mas também
há quem entenda que a profundidade das coisas acontecidas, não trará grandes
conversões à vida de cada um. O problema, quanto a mim, é que esta emergência
actual e o cenário mundial que lhe sucederá, já não podem ser pensados e
decididos a partir dos nossos velhos instrumentos analíticos preferidos. De
resto, a prova disso mesmo é que não fomos capazes de manter o mundo nos carris
quando confrontados com o minúsculo parasita que o pôs fora dos eixos. Agora, o
que eu acho importante é que tomemos a nosso cargo o que está a acontecer, e
sobretudo aquilo que será o futuro, sob pena de ver mais um sonho de vida
transformar-se em pesadelo.
Mário Rui
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