Partida da Torreira rumo ao cais das
Pirâmides em Aveiro
A todos os moliceiros, o nome do
construtor, do barqueiro e da tradição, lhes é caução.
Gosto, porque gosto, e chega-me.
Seja pelo desvelado carinho dos donos que por eles velam e velejam, seja porque
o barco adora anelar todas as ondinhas somadas aos ventos de proa, ou seja
porque aqui e ali mergulha mais um pouco só para granjear uma alma nova, eu
gosto. Há dias em que tem marés a quem a embarcação se acanha ante o que a
maneja, e daí só se espraia no vasto das águas a quem tenha golpe seguro de
vara, mão hábil no cordame ou bem falar à vela de lona. E já não abundam os que
de pesada erudição navegante e de elevado estilo de manobra, ainda fazem dele
um genuíno moliceiro. Contudo, é certo, para quem tiver sede de instrução, para
quem bem os procurar, ainda os há que se achem e que sirvam. A água onde
deslizam é molhada e fria, precisa de vela, varga e sirga, bolinão e barqueiro
e, muito, muito mais. Gosto deles, e folgo em saber que os que hoje vi
felizmente não deram com corações esquivos em peitos ribeirinhos. Ainda foram
obras d’arte executadas pelos que trabalham a tradição de peito ao vento, rosto
alto e olhos só fitos em gerar memórias de que tanto nos orgulhamos. E se o
exemplo de um povo e de uma região ainda tem algum peso no pensar dos mais novos,
então enjeite-se alguma teoria dita moderna que adora algum passado morto. Se
ainda temos a ideia e os meios, tenhamos também a vontade, porque para o bem
que acaba há sempre como trazê-lo de volta. Não será, pois, também em nosso
proveito?
Mário Rui
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