Assim,
quase sempre na véspera e no Dia de São Martinho, o tempo melhora e o sol
aparece. Hoje, cumpriu-se a toada. Amanhã, será outro dia, mas ansiamos vê-lo
de novo. Ao sol, pois de S. Martinho só nos resta abafar um protesto com um
sorriso, uma tristeza com uma gargalhada. E de que outra forma compreendemos
nós as desilusões que nos acometem? O prazer tem recantos como uma cidade à
noite e a verdade é que em nos faltando alguns cheiros, sabores, pequeninas
carícias, de mil afectos simples, de pequenas coisas amorosas, falta-nos quase
tudo. Magusto, já não haverá. Humanos banais, velhos e moços, não se vão juntar
ainda que no ar se abalance uma fumarada de tradição espessa como um nevoeiro.
Antes feita de mil respirações amigas, mil hálitos diferentes, desde o bafo da
castanha à exalação bêbada, tudo isso se mascarou este ano. Veio a praga,
sabendo-se infame, certa de impunidade e deixou-nos no escuro de uma viela,
imperturbavelmente. É um sugar a vida com um furor de vírus sem entranhas. E
cisma em ser um dia o maior dos Neros que o mundo tem visto. Enfim, é caso para
darmos um ‘ai’ vulgar com um bocejo sofrido. Também é de molde a meter-se um
‘ora’ muito derretido, muito sentimental. Põe a gente a alma a meia haste, não
há remédio! E para não ser este São Martinho um monótono arrastado, porque
langoroso não sabe a uma castanha assada e é mais um lamento, para o ano vamos
cantar-te fadinhos assados de todos os quilates e feitios.
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