Volta,
se calhar até já estás perdoado.
Pese
embora não haver unanimidade quanto ao dia em que veio ao mundo aquele que
viria a ser o primeiro rei de Portugal, apelidado de "o
Conquistador", assume-se agora que terá sido lá pelo dia 25 de Julho de
1109. Assim, passaram ontem 912 anos sobre o nascimento de D. Afonso I, mais
conhecido por D. Afonso Henriques. Ensinaram-me os professores, e nisso também
as carteiras da escola primária me deram preciosa ajuda, que entre a perda do
ano e a mais que certa perda do brio escolar, sempre era melhor ouvir atentamente
uns e tomar bom assento de trabalho e estudo nas outras por forma a evitar tais
danos às primeiras luzes intelectuais. Era o tempo em que aprendíamos uma série
interminável de noções gerais, mas quantas vezes lapidares, sobre todas as
coisas deste mundo. Quando a aula corria mal, também nos ensinavam a pôr o
dorso curvo, mas pronto, a primária, quando não preparava para diversos
ofícios, virava sala turbulenta, muitas vezes uma aventura. Bom, mas voltando
então ao aniversariante, dele sempre fiquei com uma ideia fixa ainda que,
concedo, não raras vezes de caligrafia tremulante pois mais tarde vim a saber
que afinal o homem batia na mãe. Ora, se foi daí que a sua propagandeada
musculatura tirou a rijeza de que ainda hoje goza, então há que dizer que o deviam
ter posto numa escola primária. Teria aprendido a ser filho e homenzinho. Dito
isto, volto-me agora para o outro lado, o que melhor o caracterizou; quando
dava ares de chefe, dizem, punha a barriga para diante e cruzava os braços na
espada, como quem dizia ao país: «peço a palavra!». Aqui já era um caderno de
significados. Grande Afonso! Mas também quando lhe cheirava a gente a mais lá
pelo condado, acho que tinha um ar sonhante de bailado mouro, intermédio
dançante onde a espada, a armadura e o cavalo, não eram propriamente jogo
dócil, nem diversão de espécie alguma. Aludo a estes episódios, e assim fecho a
data, só para lembrar que hoje já não são as pessoas que conquistam terras,
cidades, independências, mas antes as ideias. E que gozo me daria saber o que
pensaria o Afonso sobre isto. Afinal, parece que ninguém gosta do muito que se
passa hoje mas, no fundo, todos dizem muito bem de coisas de que toda a gente
diz, está muito mal. Parabéns, Afonso Henriques! Volta, se calhar até já estás
perdoado.
Mário Rui
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