Quando
a avó vai à bola, apoiada na grossa bengala de cana, companheira fiel das
canseiras de muitos anos, é deixá-la ir. Vai experimentar outras sensações, e à
força de distrair as agruras por que já passou, é raro que não acabe por
distrair também o coração. E mesmo que durante o jogo pareça interrogar a
memória, fica sadia no pensar, o que vale mais do que um sonho que se sonhou e
nunca se realizou. Uma avó, quer-se uma avó, e tantos alívios de confusão,
tanto desafogo de embaraços vividos em volta dela, pisar a relva fofa de um
qualquer sítio só lhe pode dar uma íntima serenidade na alma. E vai com
condições de juízo desapaixonado, ou não levasse ela na mão balões brancos. Os
coloridos podem querer dizer muita coisa, ou até nada. E porque havemos de a
censurar? Então não era da sua obrigação fazer o que fez? E as lágrimas de
ontem que lhe correram pela face? Ninguém se lembra delas?
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