O André diz, eu repito, e como pertencemos ambos à geração anterior à descoberta da penicilina, fazemos coro nas lamentações, e os nossos encontros ao sábado, um ritual, são marcados pela mesma tónica: por um lado, o espanto que nos causa tanta mudança, pelo outro o modo dos mais novos, que parecem ter do mundo uma visão peculiar, e nos demonstram que lhes falta bom-senso.
Agitam-se
eles com o alarme de que nada menos de 1 milhão de espécies corre o risco de
desaparecer, causando irremediáveis danos ao planeta, à espécie humana, aos
infindos e frágeis equilíbrios de que raro nos damos conta, mas os cientistas
estudam, concluindo que são de assustar as probabilidades de que o planeta, e nós
com ele, acabemos mal.
Como
se isso não bastasse vêm-nos com os polos a derreter, para não falarmos de como
à força de tão desmesurado aquecimento a Terra se aparenta a uma panela de
pressão prestes a rebentar.
Como
já demasiadas vezes aturámos os sermões dos profetas do Apocalipse, é que o
André e eu, com a ingenuidade de que os idosos têm o privilégio, nos
perguntamos o que terá acontecido na cabeça dos nossos semelhantes, para que
tanto entusiasmo dediquem ao medo, e se assanhem contra os raros que, sem
subsídio ou agenda política, investigam os vários pontos de vista.
Infelizmente
a moda manda, e assim o proveito e a fama vão para os pastores do rebanho, que
às vezes parecem mal saídos dos cueiros, mas tudo sabem da poluição, do calor
no Ártico, do fim dos lagartos na Nova-Guiné e avisam, de dedo em riste, que a
salvação do planeta e a nossa está nas eólicas e na fé vegan, razão de sobra
para que nos apressemos a ver a luz e a seguir a sua crença.
É
então que nós dois, com muitos anos e vivências de sobra, nos perguntamos: que
raio de gente é esta, sem esperança, só a falar de medos e ameaças?
(José Rentes de Carvalho – Escritor)
Mário Rui
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