Não
sei bem que relação há entre uma grua e um avermelhado poente. São observações
esparsas, não pretendem traçar um diagnóstico de conjunto, mas indicam
fortemente no sentido de que importa é aproveitar o momento. Aproveitar um
enfoque, o sentido deste conjunto de coisas, não foi, claro, por nenhuma
intenção profunda. Foi por autêntica incapacidade de fazer de outro modo. Mas,
como hoje também é difícil encontrar alguém capaz de fixar um conjunto sem
sentido na mente por dez segundos, a imaginação voa logo para um rendilhado de
frivolidades em torno do nada, resolvi fazer desta imagem sem fundamento o que
vi neste ar avermelhado; um feixe de certezas colectivas reconfortantemente
indiscutíveis e que, de quando em vez, convém fixar por dez segundos. E fiz bem,
até porque agora toda a diferenciação do pior que se vê ou não se vê, do melhor
que se sente ou não sente, do que está mais alto e do que está mais baixo,
acaba sempre condenada como discriminatória e até racista.
Mário Rui
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