Se
o verde e a água, se os sonhos das crianças, se a natureza e o sol que encima o
nosso planeta servirem para mais do que aquilo que imaginamos, pois então que
seja para nos afastar dos olhos o firmamento imbecil dos que, na cara de todo o
mundo, nos querem legar catálogos intermináveis de barbaridades. É Primavera,
mas parece que não é. Olhamos em redor para um sítio que subitamente se enfeita
de cores mas, a seu lado, há um outro que num raio doloroso nos faz perceber
que a chuva do ódio cai, que o chão abunda de sangue, que as roupas cheiram a
pólvora, que os corredores da vida são estreitos quando feitos por mãos
assassinas. Convém espalhar a Primavera, mas não menos importante é mostrar ao
verde, à água, ao sol, à natureza e em particular aos sonhos das crianças, esta
triste condição de haver sentimentos que não são imediatamente acessíveis ao
outro. E porque são apenas intuitos de desgostos causados à Primavera dos
inocentes - intentos nados e criados na estupidez facínora de mentes
perturbadas - a gente não percebe como é que tanta animalidade pode servir a uma
empreitada tão destruidora. É urgente, é preciso avisar a nossa diferença, mas
também em muito a nossa indiferença, de modo a que a regeneração do selvagem
não tenha por obstáculo a preguiça que às vezes somos. Às infâncias sonhadoras
que nos sucedem, é eloquente que lhes ensinemos que um futuro só pode ser
melhor se for modesto por orgulho mas intransigente por princípio! Talvez assim
venha porvir são, mais primaveras que espero ainda adorar e sobretudo menos
encéfalos com gangrena.
Mário Rui
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