Suponha
que hoje, ou amanhã, se quisesse, conseguia aliviar a quantidade de privações,
de sentimentos, de emoções, de tristezas que nunca perceberam nada do que se
passava consigo, que teve obrigatoriamente de silenciar, sob pena de agravar
ainda mais o estado de saúde pública que o país atravessou.
Suponha
ainda que conseguiria aperceber-se, hoje mesmo, da penitência que teve
provavelmente de engolir em seco, quando o mais grave estado de saúde de
Portugal, que a todos afectou, o obrigou a sepultar tanta gente.
Suponha
ainda seriamente que teve de arcar com todas as intervenções políticas, e não
só, mas também com as respostas que lhe davam, e com as respostas que lhe não
deram.
Suponha
agora que cada um de nós conseguiria trazer à superfície, e examinar claramente
cada um desses episódios.
Agora
suponha que ainda guarda uma réstia de esperança e lucidez suficiente para se
aperceber que o pior já terá passado.
A
pandemia ainda vigora, mas por momentos não suponha que a dita ainda nos trará
mais e piores momentos.
A
supor a esperança já de algum modo conseguida, o país abre-se a um novo amanhã.
E se o juízo imperar na cabeça de cada um, talvez então sejamos capazes de nos
conhecermos a nós próprios pela segunda vez, porque há um antes e um depois, e
assim talvez consigamos uma primeira imagem clara do que fomos, do que somos e
do que vamos ser.
Esperança
e alguma satisfação quanto à porta que logo mais se reabrirá, é a coisa que
mais nos anima.
E
nem vale a pena questioná-la já que numa guerra como a que vivemos - e ainda
não terminou- nós só servimos como reféns!
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