É
por não ser um adversário da democracia que quero e devo ser sincero com ela.
Ora, posto no meio das opiniões contraditórias das sondagens que por aí
aparecem, coisa que me aborrece e irrita, o que se me afigura mais sensato é
acreditar que vale a pena escapar do espírito do sistema estatístico e
probabilístico, matemática que quando aplicada a uma eleição popular parece
deixar de ser ciência exacta, e antes acreditar na infalibilidade da queda do
boletim de voto na urna respectiva e no dia certo. Quando lá cai, o voto de
confiança do cidadão, isso sim é um afastar do jugo dos costumes marotos com
que tais sondagens impregnam tendenciosamente os eleitores, sendo esse o
momento em que cada um se tranca estritamente em si e a ciência do cálculo
volta a chamar-se solenemente matemática. O resto são processos muito
suspeitosos de estudo de uma opinião pública que muitas vezes é ela própria
autoridade muito obscura e, quando não o é, lá há-de vir em sua substituição a
ignara da sondagem que tanto pode dar para abrir um espaço vazio e quase ilimitado
na mente dos sondados, como enchê-la de poeira intelectual que se vai agitando
de todos os lados sem se poder juntar e fixar ideia que leve à racional
independência de espírito. Sondagens, para que vos quero?
Mário Rui
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