E funcionava mesmo assim. Duas
rodinhas onde a fita se enrolava e onde nós nos enrolávamos também. Longe vão
os tempos em que tudo nos encantava com estas “fitas”. Eis o que eu pergunto a
mim mesmo, hoje espavorido com tanta quantidade de tecnologia que infusa nos
meus ouvidos; - o sonho durará para sempre? O das fitinhas, estou certo que
sim. Acho que é hereditário e vitalício e, portanto, essas cassetes e as
músicas jungidas a mim levaram no meu coração, à despedida, a palavra
portuguesa “Saudade”. Era o tempo do cola e cola quando elas se partiam e eu
era o apóstolo das colagens. Creio mesmo, agora, que esta época foi só minha,
ainda que dizê-lo possa parecer coisa egocêntrica, e que muito gostaria de a
ter escrito porque vivê-la, eu vivi. Vivi até terminar o grande volume onde se
agitavam vidas meninas, vidas sadias, vidas gloriosas, aquele império que é a
alegria da juventude. E se a tivesse escrito, ela seria ainda hoje o meu livro
de cabeceira. Foi-se a cassete mas continuo sedento como nunca de ouvir coisa
de que muito goste e de uma explicação total: anseio por uma profecia garantida
– a música! E seria bom fazer aqui uma justa homenagem ao homem que, teria eu
aí cinco ou seis anos, me deu o primeiro instinto para aquilo que a experiência
mais tarde consolidou em mim. Estranho ser ele a fazê-lo quando afinal era um
entusiástico e estudioso do folclore português. Chamava-se Pedro Homem de Melo.
Pois é, a vida tem destas coisas mas a música tem mais uma; é uma ponte para o
sempre. A outro propósito, já Richard Bach o tinha dito.
Mário Rui
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