Dir-se-ia que todos estes ‘passeantes’
heróicos sob a avalanche destruidora de um abanão continuado mantêm, apesar da
sua dor inultrapassável, uma benévola cumplicidade com o inimigo invisível que
minou os alicerces e as estruturas de sítios outrora resplandecentes. Ainda que
na sua fuga levem o terror e o sofrimento colados à pele e os olhos cheios de
incerteza, ficam de pé, em atitude de alucinados, como se de náufragos se
tratassem apanhados pelo salvamento. E é em momentos destes que não
reconhecemos sinais de um mundo humano e fraternal. Há por aí uns gritos
fictícios de ajuda, irrompendo de gargantas mercenárias, que devem ressoar aos
ouvidos das vítimas como um apelo dum universo estranho, como se o estado de
uma longínqua tragédia lhe solicitasse toda a atenção. Também os há mais
solidários, sem dúvida, e com a promessa duma alegria por entre o caótico
ambiente de dor. O que é lamentável é que entre os primeiros e os segundos,
haja uma diferença abissal. Uns prometem e falham, outros fomentam milagres. E
este ultraje evidente dos que falham estabelece um corte cerce na conversa. O quanto
eu gostaria de lhes resmungar injúrias de alto quilate literário. (9 de
Fevereiro 2023)
Mário Rui
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