quarta-feira, 10 de março de 2010

Um dia banal!


Na quinta-feira de 4 de Março cortei um dedo. Nada de muito grave, pensei eu, até me ter apercebido que a banca da cozinha tinha ficado tão ensanguentada que era impossível eu não levar um sermão por nunca deixar a loiça limpa. Fora isso, eu estava impecável!
Ora bem, embrulhei o dedo em papel e pensei: “vou ligar para o INEM que isto de ir a pé ao hospital ainda é um esticão”. Mas, felizmente, consegui raciocinar como gente grande a tempo de cometer uma loucura: esvaio-me em sangue antes de eles cá chegarem. O costume, percebem? Por isso, fiz-me à estrada e logo ao sair da porta deparo-me com um contentor atulhado de lixo. Ou os cantoneiros gostam pouco de trabalhar ou os meus vizinhos estão a ficar imundos! Adiante. Dirigi-me à paragem de autocarro mais próxima e esperei 10, 20, 30 minutos por um autocarro que fosse capaz de atingir, em patamar, uma velocidade superior à da ambulância do INEM o que, por sinal, também não é difícil. Mas como quem espera desespera e sou um gajo impaciente, disse para mim mesmo um palavrão daqueles que não ouso aqui repetir porque o meu pai não deixa e fui a pé.
Na caminhada que se me avistava, passei por uma escola, duas, três e reparei que os alunos se encontravam no exterior de todas elas. Nada de muito estranho. Aliás, já no meu tempo se fazia isso para fumar, porque não era permitido fazê-lo lá dentro. Mas dou comigo a pensar: “que diabo, aquilo era uma escola primária! Os miúdos já fumam naquela idade?”. Mas enfim, o mundo é cruel e os vícios também e por isso lá continuei sem muito alarido.
Entretanto, ao passar por uma repartição de Finanças notei que as portas estava fechadas. “Está na hora de almoço”, pensei. Mas eram apenas 11h30. Quer dizer, os meus avós almoçam a essa hora, mas os funcionários públicos, não. De qualquer maneira, como estava prestes a desmaiar julguei que aquilo fosse uma partida da mente e não fiz grande caso.
Finalmente, cheguei ao hospital. Dirigi-me à recepção e a senhora olhou para o meu dedo com um ar preocupado como se eu não estivesse no local ideal para me tratarem daquilo. Ora bem, expliquei-lhe o meu problema, sem saber ainda que o verdadeiro problema estava para vir. “Oh menino, hoje não há médicos! É greve.” E eu perguntei: “Oh minha senhora, então e agora como é que eu vou resolver isto?” Ao que ela me responde: “Eu não sei”. E eu: “Pronto, então se calhar vou para casa perder mais um litro de sangue e ligar ao INEM”. E a senhora, simpática, por sinal, proferiu: “Pois, se calhar é melhor! Mas experimente comer uma peça de fruta que é capaz de lhe estancar a ferida”. Mas quer dizer, com esta greve o Sr. Ernesto nem deve ter feito chegar a fruta às bancas dos supermercados, de maneira que eu vou optar por esperar em casa e confiar nos dotes artísticos de ponto cruz ou crouchê da minha mãe para me dar um ponto nisto. E assim foi.
Moral da história: nem os meus vizinhos são imundos, nem os cantoneiros gostam pouco de trabalhar. Mais, nenhum daqueles alunos estava lá fora a fumar (alguns estavam, mas os pais não têm que saber por mim), muito menos os pequenitos. Nem o motorista do autocarro vinha a cumprir o código da estrada, atrasando-se por isso. E mais importante: a repartição de finanças estava mesmo fechada e a minha mente está realmente sã, o que é uma chapada de luva branca para os meus pais que normalmente me dizem “tu és doente” quando eu lhes peço 20€.
Entretanto, avisem-me se houver greve para o dia 25 porque eu tenho de ir tirar os pontos ao hospital, está bem?
Força nisso!
Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira