quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O seu a seu dono












(Bastante crítico para com diversas classes da sociedade, Marinho Pinto acusou hoje o Governo, a polícia e os jornalistas de seguirem um “fundamentalismo justiceiro” e assegurou que, actualmente, “não há excesso de garantias nas nossas leis”, pelo contrário, “há demasiadas violações dos direitos dos cidadãos em alguns interrogatórios policiais sem advogados” e “há um fundamentalismo justiceiro de alguns polícias e até de jornalistas”.)

Imprensa escrita de hoje

Eu denuncio, eu denuncio e eu torno a denunciar. O verbo denunciar significa acusar em segredo. Mas também tem outro sinónimo. Dar-se a conhecer. O que pressupõe fazê-lo de modo a que todos percebam quem são os acusados. Pessoas com nomes. O bastonário queda-se sempre pelo mesmo teorema, o de agastar instituições que não sujeitos. Assim sendo, e com tanta denuncia anónima, eu que até sou um simples ignorante em matéria de administração da justiça, fico a pensar que a suposta aura popular é como a fumaça. Desaparece em poucos instantes. Até pode o bastonário ter razão no que diz. O problema é que o utente da justiça, de tanto ouvir gente que, assim como o eco, repete as mesmas palavras de modo interminável, só pode achar que o filantropo o é mais vezes por vaidade política que por virtude. E é pena. Especialmente quando o discurso é mesmo político e não do exclusivo foro da justiça que tanta falta nos faz. O seu a seu dono.

Mário Rui

105 anos depois






























A 1 de Fevereiro de 1908, no regresso de mais uma estadia em Vila Viçosa, o rei D. Carlos e o princípe herdeiro D. Luís Filipe, são assassinados em pleno Terreiro do Paço. De um só golpe, Costa e Buiça, decapitavam a monarquia portuguesa, deixando o trono nas mãos de um pouco preparado D. Manuel, sem capacidade nem margem de manobra para gerir uma situação política explosiva que culminaria com a queda da monarquia e a implantação da República a 5 de Outubro de 1910.

“ (…) Eram cinco da tarde quando o vapor D. Luiz, dos Caminhos-de-Ferro do Sul e Sueste, atracou. (...) O vapor do Barreiro atracou finalmente à ponte do Terreiro do Paço às 5 horas e 20 minutos [5 horas e 10 minutos, segundo outra versão] com pouco mais de uma hora de atraso, (...)."

No Terreiro do Paço tudo parece tranquilo. Continuo perto do Buiça que segue atentamente as movimentações que se desenrolam.

Do lado oriental da praça o movimento é o normal àquela hora da tarde; do lado oposto, o enfiamento da Rua do Ouro que vai até ao cais fluvial, [situava-se à direita do Cais das Colunas, do lado oposto à actual estação do Sul e Sueste] está vedado ao trânsito de veículos para dar passagem, dentro em breve, às carruagens do rei e do seu séquito. Ali há gente pelas janelas dos ministérios, gente ao longo da arcada, gente em grupos no passeio da placa central, junto às árvores e aos quiosques de venda de jornais.

Deviam ter chegado às quatro e um quarto da tarde e passam das cinco quando a ponte é lançada entre o navio e o cais. Desembarcam.

Vem à frente a rainha, seguida pelo rei e pelo príncipe real. D. Amélia logo se encaminha ao encontro do filho mais novo, para o beijar com ternura. D. Luís Filipe e o irmão abraçam-se. D. Carlos corresponde às continências militares, recebe os cumprimentos dos ministros e dos fidalgos, ouvem-no dizer ao chefe do Governo, João Franco, que siga com a comitiva e que vá direito ao palácio. Uma pequena afilhada da rainha dá-lhe um ramo de flores, recebe em troca um beijo. À entrada da sala de espera detêm-se num discreto recanto em conversa confidencial com alguns fiéis. Pouco depois a rainha aproxima-se do grupo e intervém na conferência. Andam no ar mil suspeitas e incertezas. A conversação prolonga-se por vários minutos. O visconde de Asseca, estribeiro-mor, volta a perguntar a D. Carlos se prefere atravessar a cidade de automóvel ou de carruagem aberta. Escolhe a carruagem aberta.

Não demoram mais de um quarto de hora os cumprimentos. O conde de Figueiró anuncia que tudo está pronto para a partida. A família real sobe para o landau guiado pelo cocheiro Bento Caparica. O príncipe é o primeiro a subir. Sobe depois o infante, o rei em seguida - e os três conservam-se de pé nos seus lugares, aguardando a subida da rainha. Esta sobe, ramo de flores na mão, na face um sorriso enigmático.

Sentado o rei à esquerda da rainha, enquanto em frente fica o seu filho mais velho, ao lado do qual se senta D. Manuel, o cortejo põe-se, finalmente em marcha.

Paira um certo nervosismo. D. Carlos leva um revólver Smith & Wesson calibre 32, que mantém na mão, fora do coldre, no bolso do capote. Atrás da carruagem régia vai a da casa civil, a dos dignitários de serviço.

“ (…) As carruagens partiram a trote curto pela rua ocidental do Terreiro do Paço, e as diferentes pessoas, que iam e vinham ao longo da arcada e pelos passeios, tiravam respeitosamente o chapéu, a que o rei correspondia fazendo a continência militar e conservando nos lábios o seu sorriso atraente, (...).”

De súbito, do lado da praça, quase em frente do Ministério da Fazenda, agora estação dos CTT, ouve-se o estalido seco duma primeira detonação.

Às cinco horas e vinte minutos, o comando dos Bombeiros de Lisboa recebe do posto n.º 8 a seguinte mensagem: «Ouvimos agora muitos tiros aqui no Terreiro do Paço. Próximo do Ministério da Guerra há muita gente em alvoroço. Foi o desembarque de Suas Majestades. Bombeiro 231.»

Um homem de longo varino e barbas, vindo da placa central do Terreiro do Paço, tira uma carabina da capa, assenta o joelho em terra e desata a disparar. É o Manuel Buíça com a sua Winchester, que se colocou à retaguarda da carruagem a cerca de cinco a oito metros de distância abrindo fogo sobre o rei. Logo ao primeiro tiro acerta no pescoço de D. Carlos, quebrando-lhe a coluna vertebral e matando-o instantaneamente.

Outros tiros soam pelo Terreiro do Paço que se transforma num campo de batalha, enquanto o Buíça continua implacável na sua acção. Dispara um segundo tiro atingindo o ombro esquerdo do monarca que cai para a direita sobre a rainha.

E logo, repentinamente, um vulto franzino de rapaz, de Browning FN, de calibre 7,65 em punho, corta o cordão de curiosos e polícias, põe o pé no estribo do lado esquerdo da carruagem real e dispara duas vezes sobre D. Carlos, já sem vida. É o Alfredo Costa que secunda Buíça. Apavorada, a rainha fustiga a cabeça do homicida, que procura alvejar de novo o monarca.

O príncipe D. Luís Filipe levanta-se e aponta o seu Colt, de calibre 38, mas, antes de poder disparar, já o Costa abria fogo sobre ele, atingindo-o na região do externo atravessando-lhe o pulmão. Embora ferido, o príncipe consegue ainda disparar quatro tiros sobre o regicida, que caiu por terra, onde é morto à espadeirada e a tiro pela polícia.

Entretanto, o Buíça continua a disparar, e, revelando uma pontaria espantosa, atinge o príncipe na cabeça. A bala atravessa-lhe a face esquerda, saindo-lhe pela nuca. O príncipe tomba na bancada da frente. Estoiram mais tiros, quase simultâneos, cinco, dez. O infante, ao amparar o irmão, é atingido num braço por um projéctil. A rainha esforça-se por acudir aos filhos, recebendo nos braços o cadáver do marido. O cocheiro, ferido numa das mãos, lança os cavalos à desfilada.

Na vertigem do terror o tenente Figueira abate o homem das barbas com uma estocada - recebendo, apontada por ele, uma bala na coxa.

Mário Rui

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

domingo, 27 de janeiro de 2013

A 'arte' ao serviço da política









































O Museu do Oriente inaugurou na passada sexta-feira, 25 de Janeiro, às 18h30, a exposição “Cartazes de propaganda chinesa. A 'arte' ao serviço da política”. Trata-se de uma mostra de cerca de 100 cartazes de propaganda chinesa, produzidos entre 1959 e 1981. A exposição fica patente até dia 27 de Outubro. A maioria dos cartazes anteviam o futuro "radioso" da China comunista com Mao a conduzir o país à felicidade e à glória. Por mim, acho que a exposição deve ser vista. Mas atenção! Especialmente em matérias e opiniões políticas, os crimes de um tempo são algumas vezes virtudes em outro. Mas sempre convém lembrar que a história não os apaga. Daí que seja necessário saber muito para se poder ajuízar muito e bem.

Mário Rui

Holocausto

























27 de Janeiro de 2013. Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.


"Nunca tão poucos fizeram tanto mal a tantos, em tão pouco tempo"`

É fácil governar os homens pelo terror; mas é difícil, felizmente, fazê-lo por muito tempo e impunemente.

Mário Rui

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O lugar somos todos nós, portugueses, e o tempo é de aflição!


























Quando era mais novo cansei-me a estudar. Sempre dei mais atenção às matérias que me eram queridas, o que de resto se passou seguramente com qualquer estudante, deixando que outras me ficassem mais distantes. Naturalmente que, estas últimas, fruto dessa distância, acabaram por ditar o recurso a esforço suplementar em alturas de exames. Essa foi a razão porque tive de socorrer-me dos então chamados explicadores, de modo a suplantar as inerentes dificuldades. Tudo isto se passou nos meus verdes anos, a par de um clima de efervescência política que então reinava no país. Época de mudança vivida dia-a-dia, e ainda bem que assim foi, mas nem por isso entendida todos os dias. A confusão reinante era de tal ordem que, reincidindo alegremente no estudo, lá ia tentando perceber de que lado estava a razão. Os políticos não se entendiam, o país mirrava, facções de natureza social diversa degladiavam-se e, o cidadão comum, atordoado com semelhante enleio, perdia-se em congeminações, arregimentava-se feito militante de um qualquer partido que lhe prometesse o sol, uma bela vida e especialmente tribuna. Era um direito recentemente conquistado e, vai daí, toda a gente tinha opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Instalado tal clima, e percebendo que de modo diferente não poderia ser, ainda assim sempre desconfiei de tanta iluminação mental, de tanta sapiência vinda da rua. Mas enfim, direitos são direitos, e uma revolução também não acontece todas as semanas. Daí que, serenamente e certo de que o meu caminho era outro, tivesse optado por uma militância pessoal que mais não era senão o fugir da vozearia da praça pública. Não alinhei com o ruído, nem com o trovão e muito menos com as maldições da tempestade. Eram obstáculos que me toldavam o raciocínio, e eu precisava de discorrer claramente. Foi etapa que me ajudou, na altura e hoje mesmo, a ter a minha própria atitude e a saber ouvir a dos outros. Mas tal estar nem sempre significou alinhamento com a postura de terceiros. Aliás, devo dizer que, na maior parte das vezes, funcionou justamente em sentido contrário. É defeito meu, certamente. Dito isto, cumpre-me esclarecer que tudo a que antes aludi, só tem a ver com os tempos que correm. Pode parecer desconchavo assim expresso mas a verdade é que tudo tem relação intrínseca. Senão vejam; volto hoje a cansar-me do estudo, embora não tanto das matérias que mais me tocam mas das que devo perceber, afasto-me convictamente do cheiro balofo da actual iluminação mental de alguns, abomino o ruído, fujo do trovão, tento evitar as maldições da tempestade. Da vozearia da praça pública nem quero falar. A mágoa que entretanto me fica reside no facto de, hoje, não poder “meter” explicador que consiga dar-me ajuda que me leve a percepcionar com alguma clareza o que se passa no país. Se os que nos governam não são tão bons quanto o desejado, também os que já nos governaram o não são. Basta ouvir o que diz o homem que já teve a seu cargo uma sacristia, Freitas do Amaral, para melhor se entender o fim da linha. Como é possível a alguém que esteve no outro lado da trincheira, falar assim (ver aqui) ? Não peço aplausos dirigidos a quem governa. Nada disso! Só peço a quem tem uma merda de uma ambição desmesurada, que pense no país. É de todos nós. Bem sei que podemos e devemos falar como quisermos, mas devemos falar e sobretudo fazer, conforme as circunstâncias de lugar e tempo. O lugar somos todos nós, portugueses, e o tempo é de aflição!

Então, e para quando o unir de esforços, ainda que seja com esforços mil, para levarmos o país ao lugar que merece? Mas se alguns homens o não quiserem, homens que para escaparem de si mesmos, importunam os outros com visitas, então que não saiam de casa pois eu não quero por eles ser visitado!

Mário Rui

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O compasso da moral



















Quanto ao estado “alegre” da senhora deputada Glória Araújo, recentemente detida pela PSP quando conduzia a sua viatura, nada se me oferece dizer.  Há assuntos que devem ser tratados com a mesma cautela, resguardo e harmonia, de que usamos em colher as rosas. E quanto a este assunto, por aqui me fico. O  que verdadeiramente me choca, isso sim, são os vapores anestesiantes que sobem à cabeça de outras pessoas com assento na Assembleia da República. – ver aqui. Vapores que, impregnados de total indiferença quanto ao quadro de valores das demais pessoas, acabam por denegrir qualquer juízo de Salomão ; « ... o presidente do Conselho de Administração da Assembleia da República, Couto dos Santos, defende que não faz sentido obrigar os deputados a apresentarem atestados médicos em caso de doença porque são “responsáveis pelos seus actos” e é preciso ter “confiança em quem elegemos ». Bonito, sem dúvida! Nem é tanto pelo modo como o diz,  mas sobretudo pela insensatez com que reveste o que diz. Como se estivesse a falar para ineptos. Confrangedor, este modo corporativo em que se baseia a defesa de pares de função. Quase arrisco dizer que nem a própria visada se sentirá confortável com tal argumentário. Melhor seria estar calado já que às vezes assim ficar também é uma boa opinião. Realmente quem precisa de um atestado médico, mas com extenso e conciso relatório, é este presidente. Couto dos Santos! E quanto a ter confiança em quem elegemos, estamos conversados. Nem vale a pena opinar. No rescaldo deste caso, o que fica patente é que são infinitos os erros que têm resultado a alguns homens  por terem personalizado as suas próprias abstracções, vacuidades.

Mário Rui

Winston Leonard Spencer Churchill



















“Não existe opinião pública,existe opinião publicada”

Winston Leonard Spencer Churchill nasceu prematuramente a 30 de Novembro de 1874, em Blenheim Palace, Oxfordshire, na Inglaterra. Depois de uma carreira militar de pouco sucesso, incluindo o fracasso da Operação Dardanelos, em 1915, durante a I Guerra Mundial, veio a destacar-se como um dos maiores estadistas da história. Nomeado primeiro-ministro em 1940, o seu nome ficou indelevelmente ligado às vitórias que a Grã-Bretanha conseguiu na II Guerra Mundial, ao comandar a resistência europeia contra a Alemanha nazi. Embora o sucesso da vitória seja incontestável, Churchill não teve o apoio necessário dos ingleses, quando tentou a reeleição, e foi derrotado pelos trabalhistas nas eleições de 1945. Retornou ao poder em 1951, ano em que foi premiado com o Nobel da Literatura pela publicação das suas memórias. Em 1955, retirou-se da vida política. Morreu em Londres, em 24 de Janeiro de 1965. Quarenta e nove anos após a sua morte, é caso para afirmar que os dedos de uma só mão chegam para contar outros tantos que se lhe igualaram. E que falta fizeram à velha Europa.

Mário Rui

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

PÉROLAS, PÉROLAS





Arrepiem-se, deixem que estas aparições de boa índole se entranhem por todo o corpo. Quem compreender esta profunda significação da música e de quem faz dela um hino, só pode estar no paraíso. E como é bom lá pemanecer!

Mário Rui

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A gesta portuguesa


















Os efeitos extraordinários da gesta portuguesa, mais tarde ou mais cedo, acabam  por dar frutos. Também se todos os nossos governantes tivessem juízo só teríamos História insípida. Convém sempre ter alguém que saia da normalidade. O custo desta normalidade é que fica muito cara.  Mas cá estamos nós para a pagar! Venha agora o TGV, o outro aeroporto e já agora bicicletas para dar aos peixes.

Mário Rui

domingo, 20 de janeiro de 2013

El tertuliano perfecto era falso



Acabo de ler no jornal espanhol ‘El País’ (ver aqui) uma profunda escrita sobre o tal Batista que enganou meio mundo. Afinal, lá como cá, ainda se gasta tinta com tão insignificante personagem. É pena que, nos dois lados deste jornalismo, se esgotem palavras relativamente a quem, bem vistas as coisas, não causou qualquer rombo ao país. Ao invés, acho que se está a esquecer o essencial, isto é, dar nota e notícia a propósito de quem verdadeiramente deveria sentar-se no banco do julgamento público. Os que nos votaram, a nós e aos espanhóis, a uma confrangedora realidade. A da abjecção.

Se calhar, importante, importante, é percebermos que para este tipo de jornalismo, a melhor maneira de se conservar é mesmo implantar-se num organismo estranho. Se não o conseguir, é um jornalismo que se irrita, se azeda, e acaba por se devorar a si próprio. Depois ataquem os que dizem que o jornal perde cada vez mais leitores.

Mário Rui

Em Estarreja, o nosso vendaval!

Mais sorte para uns que para outros, mas nem por isso brandura de uma natureza que não se quer aprisionada. Os seus efeitos fizeram-se sentir, ontem mesmo, um pouco por todo o país e, qual ambição desenfreada, é vê-la de modo libertino a arrasar o que se lhe atravesse no caminho. É assim. Não vale a pena moderar-lhe o ímpeto pois há coisas que não controlamos. Uma fúria assim, sobretudo para quem a viveu, embota e contrai o entendimento a ponto de só restar uma atitude. Respeito. Com efeito, alguns factos do nosso dia-a-dia impõem-se à razão, se calhar devido à sua própria natureza. Cada um interpretará o sucedido do modo que lhe aprouver. Em todo o caso, o mínimo que se pode dizer é que ser realista implica também reconhecer o inexplicável.










Mário Rui

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Democracia do IRS




Mário Rui

O privado das figuras públicas

O titular de um cargo público é um cidadão com iguais direitos que um qualquer outro. Mas o modo como exerce esses direitos não pode ignorar que é escrutinado em termos públicos de um modo que o vulgar cidadão o não é. Se no plano formal a distinção público/privado é fácil, no plano concreto a separação tende a diluir-se e tudo passa a ser público. Ninguém reportará a um órgão de comunicação social o sítio onde um qualquer cidadão passa férias. A coisa muda de figura se for uma figura pública.
Um governante não tem que dar qualquer justificação sobre o que faz no domínio da sua vida privada.Com quem anda, onde passa férias ou quais são as pessoas com quem se relaciona. Mas sabendo que num governante os domínios público/privado tendem a fundir-se deve acautelar tudo quanto, ainda que no âmbito da sua vida privada, pode colocar em causa a sua figura pública de governante. Se um governante pede sacríficos aos portugueses e no domínio da sua vida privada dá sinais exteriores de opulência e de vida faustosa, pode, no plano formal, ter todas as razões do mundo para gastar o que gasta, porque tem meios e recursos que o suportam, mas os governados não o levarão a sério. A sua autoridade fragiliza-se porque o seu exemplo é o contrário do que defende para os outros. Neste sentido os direitos privados não podem estar em contradição com as virtudes públicas.
Quem já exerceu cargos públicos conhece bem este problema. É muitas vezes cruel? É. Mas é um dos custos de ser figura pública. E do grau de exigência que lhe é colocada em tudo o que envolve a pessoa. A devassa da vida privada é um dos alimentos da democracia mediática que caracteriza as sociedades contemporâneas. E em tempos de dificuldades, como aqueles que atravessamos, ainda agravam mais o modo de percecionar comportamentos privados de figuras públicas. Cautelas e caldos de galinha nuca fizeram mal a ninguém.
Estranha-se, por isso, que haja quem continue a ignorar algo que qualquer cartilha de governação aconselha: prudência, discrição e reserva no modo como se gere a vida privada.

José Manuel Constantino - Jornal 'O Primeiro de Janeiro'

Mário Rui

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Caracóis, meus queridos. Caracóis...




Álvaro Beleza: defendeu a extinção do subsistema de saúde dos funcionários públicos por o considerar injusto.

José Lello: não escondeu a razão pela qual o PS acha que todos os contribuintes portugueses devem continuar a financiar a ADSE: é que “a maioria dos funcionários públicos são eleitores do PS”…

Correia de Campos: defende a substituição da ADSE por um novo mecanismo de mutualização social na área da saúde.

Carlos Zorrinho: "Quero afirmar que o PS não é a favor da extinção da ADSE. Quero que isso fique bastante claro".

Mário Rui: “Ciência a mais ocasiona sempre muita incerteza”.

As opiniões circulam como as moedas. Assim sendo, até eu posso e devo ter uma presunção. Ou serei diferente dos outros? Sou, especialmente no facto de não ser político.

Lamento é que alguns ainda pensem que a degeneração do que se diz deva ser, por vezes, qualificada de regeneração política! Estou descrente. De tudo e de todos. Dos que estiveram, dos que estão e dos que hão-de vir. E como todos eles se perfilam na pista que há-de dar lugar à meta. Caracóis, meus queridos. Caracóis...

Mário Rui

sábado, 12 de janeiro de 2013

Amoniaco Portugues

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Vídeo da fábrica do Amoniaco Português em Estarreja, nos anos sessenta

Mário Rui

Ruralidades




Mário Rui

A vergonha



Autarcas de 47 e 58 anos  (ver aqui)  pedem reforma à CGA no fim do terceiro mandato.


Por Bruno Faria Lopes, publicado em 12 Jan 2013 no jornal i

Ana Vicente, eleita pelo PCP em Palmela, e Seruca Emídio, eleito pelo PSD em Loulé. Reformas rondam 2 mil euros. Regime especial!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mário Rui

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Filantropia ou desprezo pelo semelhante




Austrália, Janeiro de 2013. Um aceno de agradecimento para alguém que resgatou estas crianças ao fogo assassino. Também ele irracional!
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As redes sociais, e não só, multiplicam esforços no sentido de evitar o abate do cão pitbull cruzado que recentemente matou uma criança em Beja. Não critico de todo quem apoio esta medida. Critico é quem, embuído de tão altruísta gesto, engrossando as fileiras de tal defesa, esquece a vítima, essa sim a verdadeira perda irreparável a registar. Também gosto de animais irracionais, mas apesar do carácter absurdo de muitos racionais, mesmo assim, aposto nestes últimos. Fico-me então pelo preito devido a quem tinha uma vida pela frente e da mesma ficou privada. Irremediavelmente! Claro que não me vou embora sem antes acrescentar que a abstracção humana criou, classificou e permitiu que assassinos habitassem o nosso próprio espaço. Racionais, ou não. E então? Mas será que a celebridade dos grandes crimes é obrigada a perpetuar a sua infâmia e execração? Tenhamos juízo. Morreu um humano, porra! Chega sempre um momento na nossa vida em que é necessário dizer não. Separar o trigo do jóio, acabar com as benevolentes indiferenças, o perigoso desprendimento na avaliação do que é filantropia ou desprezo pelo semelhante.

Mário Rui

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Levar a carta a Garcia



"O Governo quer garantir que «já em Janeiro» haja a diluição de, pelo menos, um dos subsídios atribuídos ao sector privado através do regime de duodécimos, conforme previsto para a Função Pública."

Palavras do ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, no final de uma reunião em sede de concertação social.

Não acredito, tal é a confusão que grassa por aí. Desde logo confusão, outra coisa não seria de esperar, dado o inenarrável modo de comunicar desta gente que diz governar. Já nem falo do modo como governam! O mínimo que exigimos é que nos digam claramente de que maneira é que vamos ser 'sacrificados'. Eu sei, eu sei que quando a casa está a arder, a gente esquece-se até do almoço. Sim: mas depois a gente come-o sobre as cinzas. É o nosso 'sacrifício' levado ao extremo. A mesma abnegação deveria ser timbre de quem tem em mãos a tarefa de combater, dizem, o precário estado a que chegámos. Os que se alcandoraram à liderança do nosso actual viver. Nunca se deve menosprezar o benfeitor, o povo que paga. Mas não. É tal a distância que colocam entre governantes e governados que, o que poderia ser uma esplêndida possibilidade de grandes sentimentos, acaba afinal por ser um contínuo repousar em cima de nuvens. É necessária uma nova justiça. E uma nova palavra de ordem. "Teremos do país a consideração que soubermos merecer pelo que aqui for dito, pelo que aqui realizarmos". Foi Sá Carneiro quem assim falou, e bem. Hoje, sem pontes que permitam ao mensageiro levar a mensagem, dificilmente comunicaremos. Governo e país. Estou enjoado de tanta incomunicabilidade. Abram melhores sulcos de mútuo entendimento e se necessário for, e é, pois que seja o próprio ministro a 'levar a carta a Garcia'. Se for entregue, todos perceberemos a nossa própria sujeição, ainda que a ela não nos remetamos de cara alegre.

Mário Rui

domingo, 6 de janeiro de 2013

Amigos para sempre




Amigos para sempre. Há pessoas que entram na nossa vida por 'mero' acaso; mas é por acaso que aí permanecem!

Mário Rui

Do aniversário do "Expresso"




De tudo o que vi e li a propósito dos 40 anos de vida do semanário Expresso, pouco me ficou. Apartando o estado enérgico e alegre do seu director, Ricardo Costa, de resto legítimo e compreensível, não me parece que desta comemoração tenha ressaltado muito mais que um normal estado de efeméride que se quis vincar. Fiquei com a sensação, isso sim, que todo o conjunto de elementos reais, e também os  abstractos, usados para a mesma finalidade, mais não foram que, invocando Antero de Quental, uma espécie de “escola do elogio mútuo”, que se juntou para marcar uma data. Bem sei que não se convidam os inimigos para a nossa festa de anos mas, parece-me, e isto sou eu a pensar alto, que dias festivos para a imprensa, o tal quarto poder,  deveriam também servir para fazer um balanço dos seus insucessos já que, relativamente aos sucessos, esses já lá vão. Veja-se ou pense-se no recente episódio, triste, do Baptista da ONU e respectivo alvo a atingir. Neste passo, devo acrescentar a minha costumada relutância quanto à compra do semanário, pois acho que há muito deixei de apreender independência ao lê-lo. Fico aborrecido comigo mesmo quando, da minha leitura e interpretação, resulta um método de análise pelo qual, invariavelmente, sou levado a concluir que leio coisas coladas (ou confundidas) a regimes vigentes. Subjectivo? Talvez. Mas sou eu. De resto, creio que é aqui que reside de facto o problema de muita da nossa comunicação social. Uma certa cumplicidade com a administração reinante que, mais tarde ou mais cedo, acaba por levá-la ao lugar escarpado a que julga não ter chegado. Enfim, coisas da política caseira e sem qualquer vantagem para quem escreve e para quem lê. Mas voltando então à efeméride do Expresso, e na tentativa de retomar, eu mesmo, a boa maneira de interpretar um conjunto de informações isentas de cumplicidades, o que espero é que futuramente o  jornal me devolva esse jeito de ser diferente. Acresce que assim se reganha o leitor. Se bem percebi, e com as óbvias diferenças, em meu desfavor,  António Barreto também o disse na crónica incluída na última edição deste semanário: : (…)  Um semanário tem mais responsabilidades na actividade de “desvendar” os factos opacos ou “misteriosos” do que os diários ou as televisões. Muito do que se passa na sociedade e na política é totalmente incompreensível se não for devidamente tratado e esclarecido. As causas concretas da dívida portuguesa e o deficit dos anos 2005 a 2013, por exemplo ainda estão hoje razoavelmente encobertas. (…)

Mário Rui

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Dos sagazes roedores





As flores são ‘peças’ importantes no desempenho de qualquer actividade, mesmo não se tratando de actividade de cariz profissional. Igualmente relevantes são as regalias, leia-se mordomias, quando atribuídas a gente que faz pela vida. Sobretudo pela sua própria vida. Das subvenções vitalícias nem vale a pena falar. Qualquer mortal acéfalo perceberá o quão gratificante é ter um futuro garantido e sem sobressaltos. E se as mesmas dobrarem de valor aos 60 anos de idade, então teremos ouro sobre azul. Teremos, não! Terão alguns. Golfe subsidiado também é ocupação a que se deve dedicar algum tempo de modo a afastar pensamentos negativos e especialmente esgotamentos nervosos. Junte-se a este caldo muito despesismo inútil, até parece que gasto excessivo ou infrutuoso de dinheiro, sobretudo por parte do Estado, é útil, e então estará uma certa casta de seres em presença do paraíso terreal. Uma casta que, infelizmente, nestas condições aburguesadas e desrespeitosas, nos habita. Ah, mas junte-se ao conjunto de teres antes referidos a ‘paparoca’ para a barriguinha. Quase me esquecia que sem conduto ninguém sobrevive. E, então, quanto ao manjar daqueles que insistem em comer coisas sacrificadas aos mais desprotegidos, nós todos, o que dizer? Pouco, muito pouco, despiciendo. Um olimpo intocável, vergonhoso, luxo descarado e difícil de compreender. Tão “sem” importância que eu mesmo vos adianto o menu (vinha no periódico de ontem):

"Perdiz, porco preto alimentado a bolota e lebre são alguns dos produtos exigidos pelo Caderno de Encargos do concurso público para fornecer refeições e explorar as cafetarias da Assembleia da República. Das exigências para a confecção das ementas de deputados e funcionários constam ainda pratos com bacalhau do Atlântico, pombo torcaz e rola... O café a fornecer deverá ser de "1ª qualidade" ( isto é transcrição de uma escuta telefónica?) e os candidatos ao concurso têm ainda de oferecer quatro opções de whisky de 20 anos e oito de licores. No vinho, são exigidas 12 variedades de Verde e 15 de tintos alentejanos e do Douro."

Pobre gente esta. Que trata da coisa pública, dizem. Gente que não sabe, porque não quer saber, que "quando o pobre come frango, um dos dois está doente"!

Mário Rui