domingo, 5 de dezembro de 2010

Natal


Azul rigor de Inverno



Pelo silêncio das marés chega sempre à praia o hálito perdido e vago dos sonhos que construímos um dia à beira-mar... Sonhos tecidos com todos os fios do nosso descontentamento, sonhos mantidos com a goma do nosso desespero, da angústia que se agarrava a nós e ameaçava como uma sombra escura a pureza das nossas horas de solidão... As algas têm o sabor dos pássaros que morreram nas nosas mãos e as gaivotas recordam a melodia salgada que preenchia as nossas manhãs de gente por detrás das portas a respirar todos os gestos. Afogávamos no azul a nossa revolta e cuspíamos na espuma a necessidade de esvaziarmos as pessoas para as construir de um modo diferente. Talvez porque nunca o fizemos, talvez porque estas manhãs têm hoje uma cor de desespero, eu respiro em cada maré o hálito perdido e vazio dos sonhos que construímos à beira-mar...

Branco rigor de Inverno