sábado, 15 de dezembro de 2012

A foto do meu contentamento

















Não sei bem de que modo é que esta fotografia ‘tocou’ cada um. Também não me interessa, não é momento para isso, dissecar muito sobre a manifestação popular que lhe deu origem. Todos sabem qual foi, e a razão que a motivou. Importa-me, isso sim, relevar não só da oportunidade do fotógrafo, que aliás deveria ser merecedor de encómios e justo galardão, como da mensagem que a mesma encerra. Em contexto de convulsão social, fica a imagem de quem, com olhar doce e cara bonita, parece querer dizer ao poder;  “... resolveremos o nosso contencioso se ambos os lados consentirem cedências...”. Por outro lado, o poder, em missão espinhosa e sempre incompreendida, como que consente um olhar e mão repousantes que lhe confere uma benevolente e  quase solidária maneira de estar no protesto.  Em suma, eu legendaria: “ como a chuva amolece a terra, o pranto da mulher abranda o coração do forte”

Em 2011, o espanhol Samuel Aranda,  fotógrafo a trabalhar para o  ‘The New York Times’, venceu o prémio ‘World Press Photo of the Year 2011’, com a fotografia de uma mulher segurando uma vítima resultante dos protestos contra o presidentete Saleh in Sanaa, no Yemén, em 15 de Outubro desse ano. Na altura foi dito que a foto mostrava um pungente e compassivo gesto, um momento de alta sensibilidade pelo infortúnio alheio, de uma grande importância para a humanidade.

A foto do português José Manuel Ribeiro cor­reu mundo e tem um va­lor ico­no­grá­fico e humanista, quanto a mim de incalculável mérito que, por si só, leva inquestionável vantagem sobre a do prémio de 2011. Não sou, mas se fosse decisor nesta matéria, seria esta a ‘World Press Photo of the Year 2012’. Se dúvidas persistissem quanto à mensagem e ao momento único captado, então era só uma questão de leitura. Mas é justamente isso que alguns teimam em não querer fazer. Por ser português? Talvez. E se voltasse a ser um espanhol? Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay!

Mário Rui

Rugas


















É pena que no duelo entre a juventude e o tempo, só haja um vencedor. É por isso que eu acho que a velhice nunca deixou brilhar ninguém. Embora alguns o contestem e eu respeite a diferença de opinião.

Mário Rui

Protesto


















Quando unimos o nosso interesse individual ao geral, feito protesto, devemos dar-lhe um jeito genuíno, corpo, permanência e, se possível, sincera nudez.

Mário Rui

Da irascibilidade de alguns







































Por muito que faça no sentido de perceber a esteira de violência juvenil que grassa em solo norte-americano, sempre me sinto defraudado quanto aos resultados. Naturalmente que psicólogos, sociólogos e outros que mais,  gente de resto bem preparada para lidar com o assunto, já muito disse e estudou sobre esta barbárie. Não sendo minha intenção pôr em causa as conclusões que ressaltam desses  estudos, até porque não reconheço em mim competência para o efeito, nem por isso fico sossegado e muito menos convencido relativamente às conclusões obtidas e aos meios entretanto postos em marcha para interromper esta longa saga de horrores. Afinal, se todos eles e consequentes medidas correctivas já tivessem frutificado, certamente que hoje não estaríamos de novo em presença de outra tragédia. Há gente, nomeadamente uma certa comunicação social de leve análise, que insiste em apontar o livre comércio de armas, nos EUA, como origem e razão para estes torpes casos. Lamenta-se que este olhar simplista leve a que a pena de alguns articulistas se reduza a esta análise o que, por si só, invariavelmente conduz os leitores, às vezes nações inteiras, a raciocínios tão primários e irrelevantes quanto ilusórios. Obviamente que a proliferação e o livre acesso a armas de fogo representam, em minha opinião, a marca distintiva de uma sociedade já de si bélica, para não dizer violenta. Aí residirá certamente uma das causas, mas apenas uma e quiçá não a principal, da violência gratuíta, até prazenteira para certa gente. O que não se compreende é que estados ditos socialmente evoluídos,  apostem em tal prática. Mas apostam, e embora não consigamos sequer conceber tal atitude , percebe-se da sua existência. É o vil metal, entenda-se o lucro através do dinheiro, a moeda de troca que tudo justifica para encher a arca da aliança. Bem vistas as coisas, assim se passa na América, que se proclama farol do mundo, como na Etiópia ou Sudão que infelizmente nem luz, quanto mais farol, têm! Neste particular não diferem muito. Os três.  Relativamente às origens que levam aos morticínios a que antes aludia, claro que a famigerada arma de fogo pesa sobremaneira no acto de matar. Mas não fiquemos desatentos aos demais males que acossam a juventude e até os menos jovens. Convém jamais esquecer, quer seja na América ou em Portugal, que as crianças nascem frágeis e inocentes; que o seu desenvolvimento deve ser protegido e promovido pela família; que esse desenvolvimento deve ser educacionalmente orientado e que só ao fim de muitos anos de educação estão em condições de se juntarem ao mundo adulto. E, quando este percurso é interrompido, a delinquência emerge, particularmente quando a família, a escola e a comunidade falham na sua função ou quando permitem que a pobreza, a ignorância ou o abandono se intrometam no dever de educar adequadamente as crianças. Sem valorizar estas crenças, é difícil aceitar que as crianças sigam um trajecto de vida imaculado. Não menos vital é questionar se nós, os adultos, não teremos a cota-parte mais importante, e quantas vezes a falta voluntária mais básica contra o dever, que induzem os mais novas a condutas de risco. Bem sei que a educação dos nossos filhos não é uma ciência exacta. Nem poderia ser! Mas, para citar então uma destas, a matemática, também sei que menos por menos dá mais. Neste caso, e afiançadamente, mais infracção,  mais relações complexas, mais delito, mais transgressão e mais tiros. E, amigos meus,  com respeito à pistola que o desfere, a verdadeira que brota fogo e chumbo, então o lugar que mais lhe convém é mesmo o fundo do poço. Assim me dizia meu avô. E como sabia do que falava! Ou não tivesse ele emigrado, como tantos outros, no início do século XX,  para esse tal sonho americano. Mas regressou à velha Europa.

Mário Rui