terça-feira, 19 de junho de 2012

Votar, votar, votar


























Hoje estou numa de votar. Votar, votar, votar nesta nossa próspera democracia é só o que me apetece. Quem me dera que todos os dias fossem dias de eleições de modo a que eu pudese dar largas à minha indómita vontade de depositar o voto. Aquele que nos tem trazido alegria, fecundidade, pujança, magnitude. Assim sim, este é o país onde eu adoro votar. O Portugal de agora.  No país de Cavaco Silva e no banco de horas para quem trabalha arduamente em prol de uma desolação de Nação. No de Sócrates e de Passos Coelho que tanto deram e continuam a ofertar de si mesmos à terra que os viu nascer. Na redução do pagamento do trabalho extra a quem a ele se vê obrigado. Na escassez de medicamentos que começa a ser notória nas farmácias. Nas mordomias que estão ao alcance de alguns eleitos, não pelo voto, entenda-se, eleitos porque já assim nasceram para uma altruísta vida de solidariedade para com o próximo. Votar muito porque são poucos os que enriquecem e eu quero mais ricos e ainda mais pobres, mais espoliados. Havemos de marcar indelevelmente esta diferença. É imperativo fazê-lo. Votar porque eu quero um Ministério da Solidariedade (palhaços) e não quero um Ministério da Segurança Social. Até Salazar foi mais honesto na aposição de nomes. Mas eu continuo a apostar na solidariedade em vez da segurança social. Solidariedade de quem? Bela pergunta! Votar, porque eu quero que coisas destas, mais uma a somar a tantas outras, se repitam infinitamente. Votar, porque desejo ardentemente que se somem também mais estas . E que todos os dias se vão adicionando mais e mais solidários e responsáveis actos de quem tem enriquecido à custa dos parolos, que somos todos nós. Que este modo de estar e ser seja um fenómeno eterno que sempre proteja quem nos degola. Minto? Não! Só quero votar todos os dias. De modo a que a sociedade corroída pelo ácido que tem vertido sobre nós, a sociedade científica que tudo executa e que nos aponta o caminho celestial, vá a pouco e pouco tremendo com a febre do orgulho, com os vorazes apetites por tudo o que a eleva à condição de novo-riquismo e, assim,  quando se gastar o efeito das suas tão belas como enganadoras e lenitivas palavras e actos acerca da “dignidade humana” e da “dignidade do trabalho”, se encaminhe para um desastroso aniquilamento. É o castigo que merece essa sociedade, ou antes saciedade? É essa a razão pela qual sofro interiormente. Não poder votar todos os dias. E para descargo da minha própria consciência, já que não voto diariamente, também não quero viver com muitos destes homens à minha volta. Sabem porquê? Porque nesse rol há muitos com muito cio. Bendita seja a louvável, humilde e honrada pobreza.

Mário Rui