domingo, 19 de outubro de 2014

Seiva fértil



“Aos 50 anos, a actividade sexual não tem a importância que assume em idades mais jovens."
A afirmação consta de um acórdão do Supremo Tribunal Administrativo e serviu de justificação para reduzir a indemnização atribuída a uma mulher, que devido a um erro médico nunca mais conseguiu manter relações sexuais.

 
Há pessoas que não deviam tomar ou julgar a sério as coisas que não dependem delas próprias. Como o amor, o sexo, a amizade, a glória e por aí adiante. Sobretudo porque nesta matéria ninguém tem o direito de se considerar o outro e se há prazeres de vida que são rapidamente digeridos isso não significa que, depois, o apetite não volte. E mesmo que venham as artrites, isso quer dizer que já não há vida interior? Ora, ora, só faltava então o aparecimento dos entendedores de apetites e desejos amorosos ou sexuais para darem novo rumo às paixões privadas. E ainda que aos 50 anos o amor e a actividade sexual  levem mais tempo a cescer do que a diminuir, a julgar por este acórdão, será a isso que se devem então submeter os cinquentões, ou seja, reduzidos a um capítulo de memórias? Então depois da aposentadoria a dita actividade, e outras, não servirão também aos mais maduros  de informação sobre o que cada um  deveria ter feito e não fez?  Não me venham com intuições súbitas e deixem-se de rotulagens enganosas. Meio século de vida não é pétrea imobilidade, também pode ser vigor feito de argamassa antiga.
 
Mário Rui
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