quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A refrega irá ser dura e cómica.



A refrega irá ser dura e cómica.

Ora aí está o início de mais uma história, ou antes escaramuça de natureza política e não só, sobre a eventual exploração de petróleo e gás natural ao largo da costa algarvia. É mais um caso sobre o qual vai correr muita tinta e ainda a procissão nem do adro saíu.

Já estou a imaginar os nossos esfaimados empreendedores, os grupos de pressão, os grandes grupos económicos, os políticos, os partidos, os jornalistas e finalmente a Assembleia da República a dissecarem o assunto. Do Presidente da República já nem falo uma vez que ele também pouco fala connosco. E, quando diz alguma cousa, engasga-se sempre, o que o leva a confundir a ‘estrada da beira com a beira da estrada’. Por isso, o melhor mesmo é que, pelo menos mais este, esteja calado. É quando fala mais sabiamente.

Portanto dizia eu que, ou me engano muito, ou vamos ter telenovela mexicana pela certa. O primeiro a vir a terreiro falar sobre a matéria, já aí está. Chama-se Mendes Bota e é deputado pelo PSD, julgo que pelo círculo de Faro. Corrijam-me se estiver enganado. Já temos tantos deputados aos círculos, que também pouco importa mais um ou menos um.
Diz então este deputado que , no dia 21 de Outubro de 2011 (data em que foi assinado o contrato com o consórcio Repsol/RWE), o petróleo ganhou ao Algarve. E eu a pensar que era o Algarve a ganhar com o petróleo. E acrescenta que houve apenas promessas do governo de benefícios para a região, caso seja detectado o tal ouro negro e se avance para a exploração.

Antes que outros se queixem, convirá a este deputado liderar desde já a corrida. Como o Algarve vive da pesca e do turismo, segundo o mesmo, lá se invocam os riscos ambientais que da exploração poderão advir. Do turismo ainda percebo que possa ficar negro com um desastre ambiental. Agora da pesca, gostava que me explicassem onde estão os pescadores no Algarve. Mas nós temos pesca? E zona exclusiva marítima, teremos também? Duvido.

Bom, mas o verdadeiro problema não me parece que seja esse. A julgar por tudo o que temos conquistado e a seguir delapidado, ao longo de vários séculos, não acredito que um bom furo a jorrar petróleo ou gás natural, seja coisa natural em Portugal. Tudo rima e parece bater certo.

A crer no que por aí se diz, o governo terá apenas como contrapatida financeira até 9 por cento sobre o resultado líquido da concessionária, mas só após esta “recuperar os custos da pesquisa e desenvolvimento dos campos petrolíferos, e após descontar os custos operacionais de produção”. Estes de tolos não têm nada!

Agora reparem: não sei se vai ou não brotar “pitrólio” e/ou gás. Os dois ao mesmo tempo era uma taluda demasiado apetecível para muitos. Mas consideremos por agora só uma destas lotarias. Por exemplo o petróleo. Ora 9 por cento do resultado líquido da concessionária, bem feitas as contas, dariam aí para encher a barriga a uma meia dúzia de famélicos, sempre os mesmos, portugueses, já por si bem instalados na vida.

Não, não estou nada de acordo com essa meia dúzia. Reclamemos, no mínimo uma dúzia. É mais redondinho.

Contemplados que estejam estes doze, habitualmente selvagens e frequentemente desagradáveis, voltemo-nos então para o país real. O que sobra? Nada! Então pois se eu ardo há 37 anos por encontrar um homem honesto, político da nossa quadratura do círculo, para ajudar o país a ser país, como posso agora acreditar que os salvados desta exploração petrolífera venham a dar algum lucro a Portugal?

Para que uma doutrina se faça árvore e dê frutos, é necessário que nela se acredite durante um certo tempo. Eles não deixam esse tempo por muito tempo. Encurtam-no sempre de tal modo que, mesmo que quisessemos, jamais o teríamos. As suas satisfações são tão rápidas e tão violentas que nada sobra para os outros.

Mas até é humano querer o que nos é preciso. E às vezes até é humano desejar o que não nos é preciso, mas é para nós desejável. Agora o que é uma doença, comum àquela dezena de cidadãos esfaimados de que vos falei antes, é desejar com igual intensidade o que é preciso e o que é desejável, mas só para eles.

Tapem o furo quanto antes, algarvios. Se preciso for nós daremos uma ajudinha. Os de cá de cima. Mais vale abrir buracos onde nasça água que nos mate a sede do que furos que nos obscureçam ainda mais.

Mário Rui