sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O lugar somos todos nós, portugueses, e o tempo é de aflição!


























Quando era mais novo cansei-me a estudar. Sempre dei mais atenção às matérias que me eram queridas, o que de resto se passou seguramente com qualquer estudante, deixando que outras me ficassem mais distantes. Naturalmente que, estas últimas, fruto dessa distância, acabaram por ditar o recurso a esforço suplementar em alturas de exames. Essa foi a razão porque tive de socorrer-me dos então chamados explicadores, de modo a suplantar as inerentes dificuldades. Tudo isto se passou nos meus verdes anos, a par de um clima de efervescência política que então reinava no país. Época de mudança vivida dia-a-dia, e ainda bem que assim foi, mas nem por isso entendida todos os dias. A confusão reinante era de tal ordem que, reincidindo alegremente no estudo, lá ia tentando perceber de que lado estava a razão. Os políticos não se entendiam, o país mirrava, facções de natureza social diversa degladiavam-se e, o cidadão comum, atordoado com semelhante enleio, perdia-se em congeminações, arregimentava-se feito militante de um qualquer partido que lhe prometesse o sol, uma bela vida e especialmente tribuna. Era um direito recentemente conquistado e, vai daí, toda a gente tinha opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Instalado tal clima, e percebendo que de modo diferente não poderia ser, ainda assim sempre desconfiei de tanta iluminação mental, de tanta sapiência vinda da rua. Mas enfim, direitos são direitos, e uma revolução também não acontece todas as semanas. Daí que, serenamente e certo de que o meu caminho era outro, tivesse optado por uma militância pessoal que mais não era senão o fugir da vozearia da praça pública. Não alinhei com o ruído, nem com o trovão e muito menos com as maldições da tempestade. Eram obstáculos que me toldavam o raciocínio, e eu precisava de discorrer claramente. Foi etapa que me ajudou, na altura e hoje mesmo, a ter a minha própria atitude e a saber ouvir a dos outros. Mas tal estar nem sempre significou alinhamento com a postura de terceiros. Aliás, devo dizer que, na maior parte das vezes, funcionou justamente em sentido contrário. É defeito meu, certamente. Dito isto, cumpre-me esclarecer que tudo a que antes aludi, só tem a ver com os tempos que correm. Pode parecer desconchavo assim expresso mas a verdade é que tudo tem relação intrínseca. Senão vejam; volto hoje a cansar-me do estudo, embora não tanto das matérias que mais me tocam mas das que devo perceber, afasto-me convictamente do cheiro balofo da actual iluminação mental de alguns, abomino o ruído, fujo do trovão, tento evitar as maldições da tempestade. Da vozearia da praça pública nem quero falar. A mágoa que entretanto me fica reside no facto de, hoje, não poder “meter” explicador que consiga dar-me ajuda que me leve a percepcionar com alguma clareza o que se passa no país. Se os que nos governam não são tão bons quanto o desejado, também os que já nos governaram o não são. Basta ouvir o que diz o homem que já teve a seu cargo uma sacristia, Freitas do Amaral, para melhor se entender o fim da linha. Como é possível a alguém que esteve no outro lado da trincheira, falar assim (ver aqui) ? Não peço aplausos dirigidos a quem governa. Nada disso! Só peço a quem tem uma merda de uma ambição desmesurada, que pense no país. É de todos nós. Bem sei que podemos e devemos falar como quisermos, mas devemos falar e sobretudo fazer, conforme as circunstâncias de lugar e tempo. O lugar somos todos nós, portugueses, e o tempo é de aflição!

Então, e para quando o unir de esforços, ainda que seja com esforços mil, para levarmos o país ao lugar que merece? Mas se alguns homens o não quiserem, homens que para escaparem de si mesmos, importunam os outros com visitas, então que não saiam de casa pois eu não quero por eles ser visitado!

Mário Rui